Em muitas ocasiões tenho vontade de perguntar às mães:
"O que é fome?"
Mas fico com um pouco de receio de ouvir um:
"Ai, lá vem você com uma daquelas charadinhas!"
Então me calo.
Mas por que isso?
Porque pais têm (e aí é: sempre tiveram) a mania de mandar na fome dos seus filhos! Eles é que querem decidir quando, como, quanto e o que seus filhos devem comer.
Só que... a fome não é deles (a se pensar bem, nem os próprios filhos são, mas aí é uma questão filosófica que vou me privar no momento...)!
Então: assim como um gosta de novela e o outro gosta de filme de terror, um gosta de sertaneja e o outro de música clássica, um... (você entendeu, né?), assim também nos apetites da mesa os gostos são extremamente variáveis!
Tem gente que põe amendoim encrustrado na banana, como uma jóia preciosa tropical. Tem outro que não pode nem olhar pra cara do camarão que já tem ânsia. Um outro que só come feijão se for gelado. Outro ainda... Vou parar porque você pode estar de estômago cheio, e posso causar sintomas indesejados...
São todos seres humanos. Com hábitos muitos distintos. Imagino que os coalas só se alimentem dos seus deliciosos eucaliptos, mas nós não!
Mas a questão mais angustiante da fome é quantitativa: uns tem muita, outros muito pouca, naturalmente.
E se a mãe é uma glutona (e note que pode não ter sido assim a vida inteira), muitas vezes vai querer que seu filho a acompanhe. Curiosamente, a raiz psicológica do fenômeno pode ser até um "estou gorda, você vai me acompanhar, como não?" (mas quem vai ter a coragem de dizer isso pra ela?). Inversamente, pode tentar fazer com que seu filho coma muito pouco "para que não fique como ela", o que também é perigoso.
Resumindo: fome (só pra lembrar) é aquela sensaçãozinha que vai do levemente desagradável ao desesperador, que nos avisa que está na hora de repor o combustível. É isso que deveria regular nosso comportamento alimentar. Não deve ser "dos outros". Não deveria ser tão influenciada pela presença, visão, facilidade de obtenção do alimento, principalmente na tenra idade. Não deveria ser
mandada pela mídia, pela troca por um brinquedo...
Mas deve ser basicamente respeitada.