Enquanto acreditei na magia do Natal acreditava na magia de tudo.
No Papai Noel, mas também no fato de que a árvore tinha algum significado, por isso se punha presentes ao pé dela. As quebradiças bolas, mais valorosas quanto maiores e mais quebradiças. As luzes desemaranhadas com muita dificuldade para envolver a árvore, cuidando para que as queimadas não se fizessem notar. O cuidado com a alta voltagem, que poderia transformar o Natal numa grande tragédia.
Nosso Papai Noel sempre foi caseiro, Noel no Natal, Papai nos outros dias do ano, sem que desconfiássemos. Quebrava um grande galho, pois na hora H deveríamos esperá-lo reunidos num quarto sem ele - o papai natural, o "verdadeiro" - que tinha a nobre e misteriosa função de recepcionar o velhinho sozinho. Ficávamos a escutar uma sucessão de altas e grossas risadas (ignorando o motivo) e o quase assustador barulho das suas grandes botas, na entrada e na saída de casa.
Pronto! Era recolher o resultado do encontro!
No tempo da magia, éramos apenas em duas crianças, eu e minha irmã, quase da mesma faixa etária. Líamos um nos olhos do outro a ansiedade, sublime ansiedade que se transformava em alegria à medida em que abríamos os coloridos pacotes dos presentes. Haverá poucos destes momentos numa vida inteira em que tudo era perfeito. A presença dos pais, o ambiente acolhedor, e... a magia!
Costumo pensar que se algo de bom sobreviveu dentro de nós, foi fruto de momentos como esses.