Quando se trata de doar sangue para pessoas doentes, a maioria de nós não vacila, principalmente se os doentes em questão forem amigos ou familiares.
Quanto aos órgãos, há ainda aquelas resistências bobas do tipo "vai que me matam pra pegar meus órgãos" ou "sem eles, como é que eu fico depois de morto?".
A novidade (ainda que experimentos existam há mais de meio século) é a doação de cocô.
É isso mesmo, cocô (pensou que era coco, uma coisinha menos nojenta, não é?).
O transplante da microbiota intestinal, TMI, termo mais eufemístico para a introdução do cocô alheio no intestino do paciente doente tem se revelado surpreendentemente efetivo para tratar infecções pelo Clostridium difficile, um germe muito agressivo, principalmente em pacientes com baixa imunidade.
O referido transplante tem sido realizado através de sondas introduzidas pelo nariz dos pacientes, mas ainda encontra natural resistência por parte de todos os envolvidos ("fator yuck", de "nojo", segundo editorial do jornal americano New England Journal of Medicine).
E o alcance terapêutico da meleca pode se estender à outras doenças como doença de Crohn, retocolites ulcerativas, e até mesmo da obesidade! - apenas que nesses casos outras formas de administração devam ser propostas, como "cocô em cápsula", por exemplo ("Argh!"? Mas a gente já toma tanta meleca encapsulada por aí!).
Eu, particularmente, acho mais interessante, promissor e menos explorador do nosso rico dinheirinho que os milhares de "probióticos" que já estão nos enfiando goela abaixo...
É germe, é probiótico, "direto da fonte"!
Como muito bem dizem os franceses (se não dizem, deveriam estar dizendo): "Vive la merde"!