Não é a minha área e o tema é meio espinhoso, mas um
estudo sobre o câncer de próstata ilustra bem os tempos neuróticos que a
medicina atual nos faz viver.
Em 162 homens de várias idades falecidos por trauma se fez
biópsia da próstata para verificar a presença de células cancerosas.
E, sem surpresa, se verificou que quanto maior a idade
maior a probabilidade de se encontrar tecido canceroso. Na faixa dos 40 anos de
idade essa incidência ficou em torno de 45%.
Veja bem: 45%! Ainda que a amostragem seja pequena, 45%
representa quase a metade da população masculina!
Agora lembre-se das recomendações atuais para o screening
do câncer de próstata: ao redor dos 40-50 anos de idade todo homem deveria se
submeter a exames periódicos, blá, blá, blá...
Então, mesmo que você não seja muito bom em matemática, já
percebeu que muito provavelmente quase a metade da população masculina que se
submeta a esses exames preventivos vai ter a sua vida completamente alterada
pela ameaça, pela nuvem negra de um câncer pairando sobre suas cabeças!
A próxima pergunta é: quem irá evoluir para sintomas? Quem
se beneficiaria de tratamento (cirurgia, radioterapia, tratamento hormonal,
etc.) e quem teria muito mais prejuízo (pessoas que vão morrer de outra coisa
nas próximas décadas, como foi o caso destes pobres homens do estudo citado)?
Felizmente, boa parte da sociedade (médica bem como a
leiga) já está começando a se dar conta da falácia do screening universal, da
indústria do medo que estamos alimentando.
E a mama, e os problemas coronarianos, e o cólon
(intestino), e...
Vale a pena estarmos vigilantes. Vale a pena pensarmos
sobre o estilo de vida que queremos levar.
Tem gente que põe o despertador para daqui uma hora e
dorme tranqüilo. Tem gente que conta cada minuto até o despertador tocar...