O pediatra pede ao menino que escreva seu nome.
E, então, mostra à mãe.
- Tá vendo só? Olha esse “r”. E esse “t”! Parece que tem
medo de cruzar o “t”. Tão fraquinho... E esse acento circunflexo? Tudo bem que
hoje em dia não se usa mais chapéu, mas... Esse nome dele, tá em hieróglifo?
Falar nisso, menino, o que é um hieróglifo?
O menino baixa os olhos, envergonhado.
- História, nessa escola, nem pensar, né?
E continua:
- Quanto é a raiz quadrada de 114?
Nada. Não se sabe se por ignorância, estupefação ou
intimidação.
- Então. Viu o que eu falo? Acho melhor a senhora voltar à
escola e pedir pra essa professora ver melhor isso. Não pode, um menino assim
tão grande e tão...
Ia falar talvez analfabeto, mas calou-se.
- Pede pra ela dar caligrafia. E aproveita e recomenda o
corte do recreio. Hoje em dia essa moçada só pensa em recreio. Outra :
pede pra ela ver se a carteira não tá quebrada. Uma letrinha assim fraquinha pode ser trauma
de cair da carteira. Um marceneiro, talvez...
Parece absurdo um pediatra interferindo com o trabalho da
professora?
Mas... e o inverso, pode?
Cada vez mais as mães vêm “recomendadas” com problemas de
saúde nos seus filhos diagnosticados pelos professores.
Anemia, TDAH, problema de visão, dores de cabeça que podem
ser... sei lá!...
Professores tradicionalmente contribuem para a avaliação
de problemas nas crianças, inclusive problemas médicos. A questão é o exagero.
É a criação de preocupações a mais na cabeça dos pais já tão sobrecarregados.
É, além disso, o expertise em
assuntos que não são da sua pertinência – mas o Google está aí para transformar
todo mundo em expert, não é mesmo?
Nada contra as professoras. Amo-las (o que é, também não
posso errar?), até. E lembro-me de muitas com saudade (a maioria vivas, graças
a Deus). Bom, deu pra entender...
Ou não?