O gosto pela leitura é algo inato?
Num certo sentido, sim.
Pessoas retraídas, tímidas, introspectivas costumam fugir dos incômodos da vida em sociedade lendo. A leitura, então (mas não só ela), cumpre essa função. Ponto.
Como fazer para que os jovens se atraiam mais pelos livros nos dias de hoje?
Inicialmente, fazendo o contrário do que se costuma fazer. Obrigá-los a ler (como as escolas insistem) é um tiro no próprio pé. Ler o que não queremos – como de resto fazer qualquer coisa que não queiramos – serve apenas para desestimular.
O certo é perceber o gosto, conceder liberdades por estilos, autores, assuntos (do gibi ao livro grosso – que às vezes tem muito menos conteúdo).
E ler. Desde cedo, perto das crianças, também não importando tanto o quê.
A leitura é elitista, elitizante?
É. Claramente é, ué! E tem algum mau nisso? A ampliação no universo do conhecimento elitiza.
Ter dinheiro, por exemplo, também elitiza. Não é por isso que andamos rasgando notas por aí. Também não é por isso que devemos ser boçais.
À parte tudo isso, queria comentar um artigo de um jornalista do jornal Le Monde.
Segundo ele, tanto a bebida quanto os livros cumprem um papel social de rebeldia do jovem contra o status quo.
Jovens assustados com o mundo que os cerca (nesse caso, retraídos ou não) podem se afundar tanto na bebida quanto nos livros para combaterem essa ansiedade, para aprenderem a lidar com ela.
A diferença é que uma ajuda a construir, a outra ajuda a destruir.
Bom ponto de vista. E bem polêmico. Claro que há que se contar com outros importantes fatores como a genética para o vício do alcoolismo e com os próprios indutores sociais ao uso da bebida (a mim parece que boa parte do mundo caminha aos poucos para uma Rússia, onde quem não bebe se torna quase um marginalizado, fruto de uma indústria perversa aliada a uma publicidade mais perversa ainda).
E na minha sempre humilde opinião, há dois outros grandes entraves atuais:
A situação social: ler é caro (mas não impossível), seja no livro, na internet ou no e-book.
E a cabeça hiper-estimulada do jovem: a concorrência é muito grande com muita coisa (além da própria internet – que contém leitura – videogames, TV, jogos no computador, Ipads, Iphones, etc.). Não sei se você já tentou: é muito duro ler qualquer livro num Ipad quando você sabe que tem todo um universo muito mais “móvel”, mais “animado”, mais colorido, mais explícito com um mero deslize do dedo médio.