Já trabalhei com uma cinquentena de obstetras em sala de parto, dos mais variados estilos. Tem o carinhoso, tem o gentil, tem o grosso, tem o calado, tem o que fala demais, tem o que não dá a menor bola para o pediatra, tem o que quer que o pediatra ajude, tem o que comemora meras contrações uterinas, tem desequilibrado que chuta a lâmpada cirúrgica (!), tem o cômico, tem o sério demais, tem o dinheirista, tem o responsável... Como em quase toda profissão.
(E só como um adendo, imagino que para o lado obstétrico, então, deva ocorrer a mesma coisa: vêem de tudo em termos de pediatra).
E, no meio, mães, bebês e suas famílias.
Digo isso para exemplificar as combinações de estilos que as mulheres podem encontrar pela frente ao planejarem ter seus filhos.
Estilos pessoais e profissionais e, principalmente, tipo de parto - vaginal (ou "normal") ou cesariana.
Se você, como paciente, ou nós, como pediatras, tentamos negociar nossas vontades (tipo de parto, mas mesmo outras condutas como momento da interrupção da gravidez, tempo de ligadura do cordão umbilical, etc.) teremos, em situações habituais, muito pouca voz. É o obstetra quem "manda" no ambiente da maternidade.
Um documentário recente do canal franco-alemão Arte denuncia a conduta dos obstetras brasileiros (campeoníssimos mundiais em incidência de cesarianas) no que tange à escolha do parto. Relata a pesquisadora entrevistada que os obstetras "fazem a cabeça" das mães durante todo o período da gravidez, muitas vezes "criando" impedimentos ao parto normal, ao mesmo tempo em que realimentam o natural medo do ato natural.
As mulheres, até certo ponto (porque podem se educar) inocentes a respeito, se deixam levar pela "conversa", seja por parte dos profissionais, seja por parte das amigas que vivenciaram uma ou outra situação (ou as duas).
Claro que a cesariana é muito bem vinda em muitas situações que poriam em risco mulheres e/ou seus filhos. Mas é um ato que indubitavelmente aumenta certos riscos para mães e, principalmente, para os filhos (o aumento em quase 50% na incidência de diabetes tipo I nos recém-natos é só mais um argumento contra recentemente identificado, citado na reportagem). Não deve e está longe de ser uma unanimidade. Deve ser discutida com clareza e franqueza durante a gravidez, expondo riscos e vantagens.