Veja essa história "quase real" que acontece de vez em quando:
"Doutor, o Paulinho passou mal nessa semana..."
"O que aconteceu?"
"Ele estava no ônibus da escola, e quando desceu, caiu. Foi achado caído pela avó."
"Desmaiou?"
"Não sei."
"Como, não sabe? Ele perdeu consciência? Não respondia às pessoas?".
"Não sei. Foi a vó que viu."
"Ela não contou?".
"Se ele perdeu consciência? Não...".
"Seria bem importante perguntar isso pra ela. E você, Paulinho, o que é que você sentiu? Conta pra mim."
"Não sei."
"Não sabe? Mas você não "passou mal"? O que foi que você sentiu nessa hora que se sentiu mal?".
"Não sei."
"Foi tontura? Dor de cabeça? Dor no peito?"
"Dor de cabeça..."
"Só?"
"Só!"
"E daí a dor de cabeça fez você cair?"
"Não sei".
"Não sabe? Mas, Paulinho, a gente quando tem dor de cabeça não cai! Você caiu por causa da dor de cabeça?".
"Não sei. Acho que foi."
"Mas você lembra como caiu?".
"Não."
"E você lembra se tinha alguém por perto?".
"Tinha."
"E eles ajudaram você?"
"Não. Só perguntaram por que é que eu tinha caído..."
"E você disse o que?.."
"Não lembro".
"Não lembra por que tinha caído, ou não lembra o que disse pra eles?"
"Por que tinha caído..."
"E quando a vó chegou, você estava bom, já?"
"Não".
"Não? O que é que você estava sentindo?"
"Eu tava passando mal!"
...
Percebe a encrenca? Esse tipo de história, por vezes quase interminável, com informações-chave ausentes ou desencontradas, ao chegar ao médico, geram mais do que esclarecimentos, confusão. Se a criança for a 10 médicos, vai investigar com exames que vão do eletroencefalograma ao raio X de seios da face, vai ser encaminhada do cardiologista ao psicólogo. Se se insiste no interrogatório, gera ansiedade nos pais, mas principalmente na própria criança, que a partir de um certo momento começa a responder qualquer coisa, pra se livrar do incômodo de ser interrogada!
Imagina tudo isso com consulta rápida, então!
É o tipo do caso em que se tem quase que esperar por uma próxima vez para se criar qualquer proposta de investigação ou tratamento. Ou, principalmente, torcer pra que nada mais ocorra.
(E o que é pior: às vezes é uma historinha só pra conseguir um atestado!)