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4 de novembro de 2016

Dedada Azul


Não estou aqui pra julgar o afeto que cada homem de meia-idade nutre pelo seu urologista, mas há muito tempo que as evidências vêm mostrando que pouco adiantam as dedadas anuais a que têm se submetido uma legião deles (alguns a real contragosto).
O mesmo vale para as mulheres e suas mamas. A idéia vendida de que "se previne" (vale dizer: "se livra", "se evita") o câncer é, em boa parte, falsa. 
Acontece que alguém que ousa falar (escrever) isso é visto como inimigo público número um. 
Sempre fico imaginando a multidão de mulheres para as quais se diz: "é, tem algum nodulozinho aí, mesmo", o que costuma vir depois: portas do SUS se abrem milagrosamente e a paciente em questão (agora uma "paciente", se antes não era) tendo seu pronto agendamento com os melhores especialistas, acompanhamento psicológico (porque o achado de um "nodulozinho" é carregado de um plúmbeo significado para todos(as)) imediato e continuado, acesso aos melhores exames confirmatórios da sua condição (se benigna ou maligna), bem como a medicamentos senão de graça, pelo menos subsidiados pelo estado.
Quem já vivenciou isso, sabe que é fantasia. 
E nas mulheres, como nos homens, anualmente se abarrotam ambulatórios, salas de exames, laboratórios com pessoas que iriam viver muitos anos na feliz ignorância de uma condição que mata mesmo é aqueles que já iria matar de qualquer forma. E que põe o benigno na vizinhança do maligno (e o pouco maligno na vizinhança do muito maligno), todos com os mesmos terrores e expectativas.
Isso está errado. 
Mas vamos ter muitos meses rosas e azuis até percebermos que é um esquema que deve ser afrontado e mudado.


(Outro fato curioso é a própria nomenclatura "rosa" e "azul". Então não temos ensinado a diversidade? A aproximação dos gêneros? E aí a mulher é "rosa", sendo que muitas mulheres ficam magníficas num vestido azul? E o homem é "azul", mas poderia ser igualmente "marrom" ou "preto", mas que nenhuma cor deveria (mais) simbolizar um gênero? Só não está pior do que as "antigas" camisetas que pintavam um alvo (!) nos peitos das mulheres...)