Às vezes o pediatra surta de verdade. Mas no mais das vezes, surta só na imaginação.
Assim, quando se vê por aí um pediatra com um certo sorrisinho no canto da boca e olhar perdido, pode ter certeza: está surtando pra dentro!
Por que digo isso?
Porque às vezes, na insistência de certos questionamentos, certos hábitos, certas certezas, é o que temos vontade de fazer, dar uma surtadinha.
No estilo: "Quer fazer? Faça!", "Ah, é esse o teu diagnóstico,então (colega)? Ok, siga em frente com o teu tratamento!", "Você vai continuar fazendo porque sempre fez, e sempre deu certo? Cool!", "A sua mãe disse que isso deve ser uma (alergia, um refluxo, uma pneumonia, um quebrante, um cobreiro, só bixas)? E por que você não continua consultando com ela?", e etc.
Claro que somos pagos pra isso, pra surtarmos apenas pra dentro. É parte importante do trabalho pediátrico. Mais do que pagos, deve ser parte da vocação. Pacientes não têm que saber tudo. E se soubessem, não precisariam da gente. Além disso, não há profissão que não tenha seus perrengues. É na somatória das conversas acima, no dia a dia, que a coisa pega. E diferente de outras especialidades, temos o recurso (às vezes estratégico) de nos voltarmos pros nossos reais pacientes e perguntar:
"E sosê, qué bincá com o titio, qué? Blrrr!" (às vezes é surto!)