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24 de dezembro de 2013

Cedo


Quando viu o pai chegar carregando o enorme embrulho, Matheus já foi reclamando:
- De novo, pai? Não consegue aguentar? Hoje é só dia 21! Tá cada vez pior! Cada vez mais cedo!
O pai, fazendo bico, se defendeu:
- Só dessa vez, filho! Dessa vez vale a pena! Toma, veja!
- Não senhor! Vai ter que esperar! A noite de véspera é só daqui há 3 dias. Passa rápido...
- Ah, filho! Pega, vai! Abre, antes que a tua mãe chegue! 
Matheus irredutível, olhos fechados, balançando a cabeça:
- Não!
- Tá bom, eu digo que fui eu!
- Não, não, não!
- Olha que eu levo pra criança pobre, hein?!
De novo, olhos fechados, beiçudo:
- Póleva!
Desacreditado, o pai ameaça chorar:
- Poxa, Matheus, é tão bonito, a gente podia começar a brincar agora mesmo...
- Não!
Como é que pode, um menino de 6 anos com uma força de vontade dessas? Uma formalidade: a missa, a reza em família, colocar embaixo da àrvore... Ele provavelmente nem acredita que aquele cara magrelo que sobra na roupa vermelha seja mesmo um Papai Noel e... Vão ter que esperar?
Isso não se faz! Já tem vizinho na rua com bicicleta reluzente de nova. E esse ruído que vem da esquina, parece que é de um Ékisbócs, nos Bertoli. Só eles vão dormir na tristeza, mais três longas noites de tédio.
- Não vou aguentar! Não vou aguentar!


Mas Matheus já está se recolhendo, que amanhã a louça do café é dele.