Recém-nascidos tomando várias doses de morfina ao dia para se manter "normais". Crianças um pouco maiores com transtornos sérios de aprendizagem, e predispostas à adição. Pessoas jovens caindo no meio da rua, do nada, em parada respiratória ou em convulsão. 200 mortes por dia, somente nos Estados Unidos.
Esse cenário de filme de horror está acontecendo agora, devido a uma epidemia, a de uso de medicações "para dor" das mais variadas, agrupadas sob o nome de "opióides", derivadas de uma substância antiga, o ópio ("opióide" etimologicamente significa "parecidos com o ópio") muito efetiva para alívio da dor, mas que a partir dos anos 1990 ganhou a chancela oficial dos médicos (e congressos, e propagandas, e revistas especializadas, e etc.) desse país.
E se ganhou os médicos e se espalhou pela mídia (inclusive a mídia leiga), o resultado não poderia ser outro.
Há cerca de 10 anos, o principal laboratório produtor do opióide mais famoso da época, o Oxycontin (da família Sackler, filantrópica para tudo que é universidade e museu importante dos Estados Unidos, como o Metropolitan, o Guggenhein, e com doações até para o parisiense Louvre) pagou 600 milhões de dólares em ressarcimento às famílias de vítimas fatais afetadas, uma das maiores indenizações pagas por uma indústria farmacêutica até hoje. Nem assim adiantou. O balanço ainda era, ao que parece, muito mais positivo (para eles, claro): 35 bilhões de dólares ao ano, é uma estimativa atual do seu faturamento. Mas há uma década, o monstro atual era apenas um bebezinho.
Para onde corre um traficante quando seu negócio ameaça deixar de ser rentável no seu antigo mercado? Onde as leis são mais frouxas, onde as vítimas são mais indefesas ou, preferencialmente, onde ambas as coisas acontecem.
Você conhece algum país com essas características?