Hospitalizar ou não? Eis a questão.
Não sei ao certo (só hipotetizo) quais fatores têm levado a um muito menor número de hospitalizações infantis. O fato é que na maioria dos hospitais a ala pediátrica encolheu nas últimas duas décadas.
Um dos fatores foi, com certeza, a diminuição do número de doenças graves que a exigiam. Vacinas, nível de renda, nível educacional, saneamento, atendimento primário são alguns dos contribuintes para isso.
Há outros fatores menos suspeitados, certamente. O próprio desestímulo médico (ganho) em manter enfermarias cheias. Mas a pressão muito maior por parte de pais que hoje não admitem uma internação que eles próprios enxergam como desnecessária deve ter um papel preponderante (algum tempo atrás, a palavra do médico era lei...).
Descontados estes fatos - ou exatamente por eles próprios - ficamos às vezes na corda bamba com pacientes com patologias "mais ou menos graves", que podem evoluir tanto pra cá (melhora) quanto pra lá (piora, ou até mesmo um eventual óbito). Interná-los, e sofrer com os dardos e setas (desculpa aí, Hamlet!) de agulhas, soros, papais e mamães extremamente angustiados e nervosos (a norma), ou tratá-los em casa, no carinho do lar, com colinho mais aconchegante da poltrona do papai ou da cama da mamãe, sem rostos estranhos e assustadores, sem gritos de quartos vizinhos, sem visitas de seres assustadoramente brancos e pálidos?
Às vezes precisa. Às vezes precisam ser arduamente convencidos da necessidade. E se mantidos em casa e as coisas vão mal (nem sempre piores do que iriam no ambiente hospitalar), somos com frequência culpados da "má decisão".
Mas é, por outro lado, tão bom perceber a melhora de pequenos pacientes em casa, que é onde crianças deveriam ficar...