Por mais que eu tente, não consigo definir para onde vamos num futuro próximo com a "guerra de especialidades" (turf war) quando se trata de atender crianças.
Pelo visto, nem eu nem ninguém (como mostra uma reportagem do site Medscape recente).
E mais: a confusão não envolve somente as crianças, mas os velhos também. Há quase sempre pouca gente disponível para cuidar destas duas grandes (decrescente mas ainda significativa de um lado e significativamente crescente de outro) classes de pacientes.
Parte do (grande) problema está justamente no parênteses anterior: com tanta gente envelhecendo (e não morrendo, claro), as doenças dos velhos vão se multiplicando e se tornando mais complexas, fazendo com que o cuidado dessa faixa etária por si só já ocupe boa parte do tempo do médico de família (que é quem deveria - muito teoricamente - dar conta também dos pimpolhos no âmbito da saúde pública atualmente). Ou seja, não somente "sobra pouco espaço" na agenda deste, como o vai "destreinando" na lida com as crianças.
Outro fato irresolvível é que no mundo inteiro pediatra é como raio: só cai um perto do outro. Áreas carentes da especialidade vão aparentemente continuar sempre na seca, não importa quanto incentivo governamental se proponha para resolver o problema (até porque em países como o nosso políticas mudam como nosso próprio clima).
Enfermeiras treinadas na área pode ser parte da solução, mas terão o entrave da ciumeira dos pediatras, da ganância da classe médica, da desconfiança inicial da população (só para falar em alguns dos obstáculos a se vencer).
Ainda acredito que o interesse pela especialidade pediátrica é (será) algo cíclico, e que estamos vivendo o ciclo de terrível baixa. É uma área de atuação gratificante. Não tanto em termos de dinheiro - é das especialidades mais "pobres" - mas não há outra especialidade onde a gente se "divirta" tanto, onde se recebe tanto legítimo carinho por parte dos pacientes.