Dia desses vi uma jovem senhora, mãe de dois filhinhos muito bonitos, atravessar a rua quase na frente do meu carro com um ar de preocupada (escola? banho? dificuldades econômicas?) e me pus a pensar:
Será que ela sabe que essa é a hora? Que isso que ela está vivenciando agora não é, na realidade, preparação pra nada?
Claro que não. Quase nunca sabemos. Estamos sempre nos preparando para algo, mais ou menos afobados, afogados.
Esse momento congelado na minha memória, neste texto, ficou congelado pra mim, não pra ela. Sou eu o espectador. Eu é que consigo me afastar, analisar, refletir, tirar lição. Lição pra ela. Lição de mim pra mim deixe que outros tirem, que eu sou incapaz.
Tão incapaz quanto essa jovem e felizarda senhora que perde tempo com suas angústias maternas, com esse cenho franzido, atravessando a rua com cara de que algo sério ou grave pode estar para acontecer.
Sério, grave, trágico é que esse momento tão belo (inocentes filhinhos fielmente agarrados à sua protetora mãe) é descaradamente finito.
E não está sendo suficientemente percebido.
(Ou eu vejo demais?)