"Ao feijão? Não é à lactose, ao glúten, ao..."
"Não. É ao feijão, mesmo"
"Por que?"
"Porque eu passo muito mal quando como feijão. Tenho muitos, muitos gases, dor na barriga, passo o dia inteiro querendo ir no banheiro."
"Entendo. E tem algum outro alimento que faça você se sentir mal?"
"Até tem. Às vezes uma cebolinha, ou quando como muita azeitona, ou mesmo o abacaxi, quando tá muito ácido. Mas nada que se compare ao feijão. Esse é brabo!"
"Sei. E você come feijão muitas vezes?"
"Não tanto quanto eu gostaria, doutor. Aí é que tá! Gostaria de comer muito mais! Por isso preciso saber: tem algum exame pra eu saber se eu tenho essa intolerância?"
"Tem. Está aqui, ó: vou pedir um TIF pra você..."
"TIF?"
"É, TIF: teste de intolerância ao feijão..."
"Poxa, que bom, doutor! TIF!..."
"Nããão!... Brincadeira! Tem isso não! Não tem "teste de intolerância ao feijão". Não que eu saiba. Mas me diz uma coisa: você já não sabe que basta comer o feijão? Não sabe que é ele o culpado dos teus sintomas? Pra que o exame?"
"Pra ter certeza, doutor!"
(Essa história não tem nenhuma graça. Não é uma piada. É um drama social. O "drama do feijão", se assim quiser chamá-lo. Mas é uma realidade no dia a dia dos consultórios. O "sujeito" sabe que é intolerante. Intolerância significa essencialmente "passar mal quando come alguma coisa", do feijão à cebolinha. Mas com todo o dia passado no vaso, não se convence! Quer exame! E se o exame disser que é intolerante, é intolerante! Se disser que não... Opa! Deve ter algum outro motivo, esse feijão deve ser só coincidência...)