Povo brasileiro, agora que vocês demonstraram sua maturidade cívica (aliás, parabéns), decidimos - decidimos, não, na verdade fomos forçados a - mudar algumas regras e costumes. Em primeiro lugar, chega dessa palhaçada de futebol, a praga que deu origem a tudo isso. Nada mais de Copa das Confederações. O campeão é não-interessa-quem. Venderemos os estádios para a iniciativa privada. Ela que ache o que fazer com tanto estádio. Com o dinheiro da venda, baixaremos o preço das passagens do transporte público para... quase zero por... quase o resto dos tempos.
Como dizíamos, chega de Copa. Copa do Mundo, brasileirão, brasileirinho, estadual, futebol de botão. Chega. Sem futebol, aproveitaremos para eliminar outra praga brasileira: a cerveja. Não haverá mais reunião de amigos em torno da televisão. Sem reunião de amigos, pra que cerveja? Maturidade gente, é isso aí (de novo, parabéns).
Carnaval. Ai, gente, não via a hora! Fim! Lógico, fevereiro será mês de trabalho, inclusive para vocês aí do Rio, norte, nordeste. Do Brasil todo, né? que a gente não tá mais aqui pra sustentar vagabundo mexendo as cadeiras enquanto a nação fica parada.
E, por falar em cadeiras, proibida a bunda. Nem falar em bunda mais pode. Bunda, pronto, falei, mas foi a última vez. Não é à toa que esse país só é lembrado por isso: bun... (ôps!), carnaval e futebol. Não mais!
Quer dizer, no more! Porque chegamos à conclusão que esse é um país que não vai pra frente muito por causa desse idiominha tribal chamado português. Inglês, gente, inglês! Inglês não permite samba ("Look that beautiful thing, so full of grace...", não dá!), não permite drible (que ironia "drible" vir do inglês, de caras que só sabem andar em linha reta), inglês não permite bun... É butt, e olhe lá!
Será escola o dia inteiro, presidente falando o idioma (inglês) de maneira exemplar, trabalho sério (sabem o que é trabalho sério? não aquela coisa de paletó na cadeira e blá, blá, blá), água, repouso (silencioso, musiquinha é outra coisa proibida, em país sério fone de ouvido é pra podcast cultural, cultural podcast).
Esquecemos alguma coisa?
Ah, e quem não gostar pode, de novo, ganhar as ruas, e se manifestar.
Ei, ei! "Fora" o que, gente? "Out"! "Out"! Inglês, gente!
Até na pré-escola, veja você, aqui da minha cidade, teve manifestação. Manifestos estes prontamente reprimidos com bolas de borracha, bombas de efeito floral e balas de pimenta.
(às vezes me canso da minha veia humorística e não resisto a exercer a vocação pediátrica - ou seria o contrário?)