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28 de junho de 2013

Galinha Piradinha



Imagina que, de uma hora para outra, a Galinha Pintadinha, tendo seus pés dobrados por fortes interesses comerciais, pirasse.
A Galinha, diferente de outra galinácea - essa do meu tempo - o Garibaldo, da Vila Sésamo, sofre, sim, pressões comerciais intensas.
E quanto mais ela enche o papo, mais suscetível às pressões da indústria. E quanto mais pressões, mais tenderá a encher o papo, num ciclo vicioso muito perverso e muito tempos modernos.
Então: pirada, imagina que começasse a sugerir comportamentos pouco recomendáveis aos pequenos humanos. Como, sei lá, só comer alimentos de pacote, por exemplo. Ou tomar sorvete da marca x ou y ...no café da manhã!
Sei o que você dirá: a Galinha pode ficar louca, mas os seus donos não são.
Acontece que a piração avícola - bem como a loucura de qualquer personagem infantil - tende a ser sutil. Produtos como o Computador da Galinha, a Cuequinha da Galinha, a Prancha da Galinha, o Chiclete da Galinha vão tendendo a "enlouquece-la" de forma gradual, sem que seus pequenos fãs (e muitos dos seus pais) costumem perceber.
E aí, em nome de algumas horas de sossego infantil, pais vão adotando comportamentos ditados não por uma real ave azul, mas por gananciosos manipuladores de cabecinhas humanas.

25 de junho de 2013

Infamiflu



"Aproveitando" a queda na credibilidade governamental - ainda que nem tudo sejam espinhos, claro - cito aqui os dois artigos recentes publicados no site da Cochrane (que compila estudos realizados mundo afora e sugere tratamentos excluindo interesses comerciais) sobre o Tamiflu:
Num deles, a conclusão de que o uso do medicamento no máximo diminui o tempo de sintomas em cerca de 1 dia. E só! 
No outro, em crianças, o resultado ainda pior: nem para evitar a disseminação do vírus (a justificativa "oficial" pro seu uso) serve - e também, no máximo, diminui em algumas horas a presença dos sintomas. Efeito que pode não valer a pena para quem tem as reações adversas relativamente frequentes: náusea, diarréia e vômitos.
Então se usa pra que?
Pergunte-se para o Ministério da Saúde. Ou para a Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ou, mais diretamente, para a Roche, laboratório que fabrica o remédio.
Ou, ainda, para os três, que, sentados a uma mesa de negociação, devem ter seus motivos. 

21 de junho de 2013

Maturidade



Povo brasileiro, agora que vocês demonstraram sua maturidade cívica (aliás, parabéns), decidimos - decidimos, não, na verdade fomos forçados a - mudar algumas regras e costumes. Em primeiro lugar, chega dessa palhaçada de futebol, a praga que deu origem a tudo isso. Nada mais de Copa das Confederações. O campeão é não-interessa-quem. Venderemos os estádios para a iniciativa  privada. Ela que ache o que fazer com tanto estádio. Com o dinheiro da venda, baixaremos o preço das passagens do transporte público para... quase zero por... quase o resto dos tempos.
Como dizíamos, chega de Copa. Copa do Mundo, brasileirão, brasileirinho, estadual, futebol de botão. Chega. Sem futebol, aproveitaremos para eliminar outra praga brasileira: a cerveja. Não haverá mais reunião de amigos em torno da televisão. Sem reunião de amigos, pra que cerveja? Maturidade gente, é isso aí (de novo, parabéns).
Carnaval. Ai, gente, não via a hora! Fim! Lógico, fevereiro será mês de trabalho, inclusive para vocês aí do Rio, norte, nordeste. Do Brasil todo, né? que a gente não tá mais aqui pra sustentar vagabundo mexendo as cadeiras enquanto a nação fica parada.
E, por falar em cadeiras, proibida a bunda. Nem falar em bunda mais pode. Bunda, pronto, falei, mas foi a última vez. Não é à toa que esse país só é lembrado por isso: bun... (ôps!), carnaval e futebol. Não mais!
Quer dizer, no more! Porque chegamos à conclusão que esse é um país que não vai pra frente muito por causa desse idiominha tribal chamado português. Inglês, gente, inglês! Inglês não permite samba ("Look that beautiful thing, so full of grace...", não dá!), não permite drible (que ironia "drible" vir do inglês, de caras que só sabem andar em linha reta), inglês não permite bun... É butt, e olhe lá!
Será escola o dia inteiro, presidente falando o idioma (inglês) de maneira exemplar, trabalho sério (sabem o que é trabalho sério? não aquela coisa de paletó na cadeira e blá, blá, blá), água, repouso (silencioso, musiquinha é outra coisa proibida, em país sério fone de ouvido é pra podcast cultural, cultural podcast). 
Esquecemos alguma coisa?
Ah, e quem não gostar pode, de novo, ganhar as ruas, e se manifestar.
Ei, ei! "Fora" o que, gente? "Out"! "Out"! Inglês, gente!

Até na pré-escola, veja você, aqui da minha cidade, teve manifestação. Manifestos estes prontamente reprimidos com bolas de borracha, bombas de efeito floral e balas de pimenta. 

(às vezes me canso da minha veia humorística e não resisto a exercer a vocação pediátrica - ou seria o contrário?)

18 de junho de 2013

Cabeça Vazia, Estômago Cheio



Um fenômeno que a gente nota muito em crianças que estão acima do peso (principalmente naquelas que seriam menos gordinhas geneticamente falando) é o fenômeno do comer por ansiedade, do “comer por falta de coisa melhor pra fazer”.
E, olha, como tem criança nessa situação numa época em que pais têm pouco tempo para dar atenção (ou, em alguns casos, têm tempo demais!), épocas de crianças ansiosas por conta de muita mídia, muita cobrança, muita “estética” desde o berço (todo mundo tem que ser magro, ágil, esbelto e etc. – mais do que o vizinho, principalmente).
Então, se a criança comeu, por exemplo, ao meio-dia, ao almoço, e às 2 da tarde já está falando em comida, não é fome! É ansiedade, é cabeça “desocupada”! Vai arrumar coisa melhor pra fazer!
E aí vale tudo: vale chamar amigos pra casa, vale ir na casa dos outros, vale brincar de casinha, vale jogar bola, vale andar de skate, vale tirar meleca do nariz, vale brincar de pega... só não vale comer de novo!
E não se preocupe: ninguém morre de fome esperando 3 horas pela próxima refeição, ninguém fica traumatizado esperando pela próxima refeição.
Recuse mesmo!
Até porque muitas dessas crianças obesas são crianças que cresceram tendo todos seus desejos atendidos, principalmente relacionados à comida (será que ouvi a palavra “vovó” vindo de algum lugar?).

14 de junho de 2013

Tábuas de Salvação



Havia uma coisa chamada Ética.
Uma tábua de leis ditando as boas e desejáveis normas da atuação profissional.
E dentre estas normas, uma que dizia sobre a propaganda médica.
E, dentre outras coisas, "vedado ao profissional qualquer forma de veiculação em mídia sobre blá, blá, blá..." Muitos blás.
Coisa de um passado já aparentemente longinquo.
Dói, então, no ouvido de um Ancião - antigo Habitante de um antigo Tempo em que aquelas normas por algum motivo valiam - propagandas como a que ouvi casualmente no rádio do carro:
"Você sabia que mais de x% (não lembro os valores) das mulheres não atingem o orgasmo? (assim, no meio do trânsito, fazendo corar o sinal amarelo do semáforo à minha frente). E muitas dessas mulheres não atingem o orgasmo porque seus parceiros não têm condições ("envergadura moral" não foi, me parece, usado) de manter uma relação sexual prolongada. Mas a maioria desses problemas (que tipo de problema, chegar do trabalho cansado, mocreíce marital?) têm solução! Na clínica... (não vou citar o nome pois sou um dos Anciões - e depois, como bom Ancião, já esqueci mesmo) você terá o apoio de médicos capacitados..."
Peraí! (barulho de derrapagem na curva) Médicos? Com sobrenome e tudo (Capacitados)?
Primeiro desconstrói, depois tenta construir, na melhor das intenções.
Até mesmo o câmbio do meu carro (carro com câmbio, carro Ancião) se sentiu meio desmoralizado, pensou no tempo de marcha que suporta engatar, coisas assim.
E as tábuas, onde andam as tábuas, meu Deus? 

11 de junho de 2013

Vias Demais

"Devia haver uma via
E sem essa via não haveria ida
Nem vinda"




Imagina um entroncamento rodoviário urbano em que as novas vias vão crescendo em número até que ninguém mais entenda que caminho leva aonde.
É mais ou menos o que acontece com o circuito neuronal (das células do cérebro) na tenra infância. Segundo os pesquisadores canadenses Paul Frankland e Sheena Josselyn, o grande aumento de "entroncamentos" neuronais próprio da idade (muitos dos quais serão "jogados fora" até a adolescência, pela necessidade de clareamento dos circuitos fundamentais) faz com que a maioria das informações obtidas até essa idade (abaixo dos 3 anos) se percam quase totalmente.
Por isso é tão difícil pra todos nós lembrarmos de eventos tão precoces.
Por isso também as informações "lembradas" dessa fase são tão pouco confiáveis.
O que fica, no entanto, é uma conjunta memória afetiva (memória de emoções vividas e sentidas). 


7 de junho de 2013

O Milagre do Vento Sustançoso



Assim como a proverbial fama dos gordos de que engordam comendo pouco, ué, também os pais das crianças pouco comedoras - e aí, principalmente as magras, claro - costumam subestimar a quantidade de calorias ingeridas.
"Vivem de vento" essas criaturinhas, segundo seus provedores, mas a gente sabe, ou descobre, que esse vento é feito de banana, arroz, batata frita, macarrão (notadamente Miojos), chocolate e, principalmente, leitinho aqui e ali.
E o milagre do vento sustançoso acontece na forma de crescimento adequado, peso adequado (ainda que se queira muito mais, olha essas costelas!*), energia (não sempre, não são usinas eólicas, ainda que vivam de vento) e, na grande maioria dos casos, ausência da temida anemia (desnutrição deixou de existir no vocabulário materno há algum tempo).
Então, gordos, parem de mentir!
Magros, façam-me o favor, também!

* Essa fixação com costela vem dos tempos bíblicos. A mãe do Adão (mãe do Adão? é um cacófato. Fale rápido: mãe do Adão! Aliás, perdoem-me Adões, vocês já são cacófatos puros!), quando levava seu filho ao pediatra, reclamava das costelas. Fez-se Eva. Mas, nós pediatras atuais, ainda não temos essa capacidade. No máximo, tirar 10 centavos da orelha... 

4 de junho de 2013

Pipocas



Mães que amamentam às vezes têm dúvidas sobre se devem deixar aquela figurinha eternamente grudada ali, nos seus peitos, mesmo que não estejam realmente (mais) mamando.
Bom, peito nunca fez mal à ninguém, muito pelo contrário. Mas as mães merecem um pouco de folga - se assim quiserem.
Então, a regra boa a seguir é a regra da pipoca no forno de microondas.
Quando a pipoca pára de estourar, tá na hora de tirar, senão ela queima.
As crianças que após algum tempo param de sugar, também, "autorizam" suas mães a retirarem-nas do peito. 
Não queimam, óbvio.
Mas facilitam as fissuras pela ação prolongada da saliva.