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30 de novembro de 2012

Até Antiquando?


A Sra. X (não seu verdadeiro nome), mãe da paciente Y (também não) chega com o diagnóstico pronto:
-Dr., não é ... o que ela tem? Eu li no Google, e tudo bate! Veja, ela tem isso, tem aquilo e aquilo outro lá. Só pode ser...!
Diagnósticos, minha senhora (disse eu) não são feitos assim. Ou não devem ser!
Não se pensa em algo (por exemplo, ...) e aí vai se verificando se os sintomas do paciente “batem” com aquilo.
Aprende-se (ainda?) na faculdade:
Para se pensar em um diagnóstico, seria necessário mais de um software especializado do que de um Google.
Um software que juntasse a história do paciente (sintomas) com os sinais do exame físico (sinais) e – havendo ainda necessidade, ou para confirmação – exames laboratoriais dirigidos para a(s) suspeita(s) clínicas (e não a esmo!).
Não há diagnóstico da moda (alguns são mesmo extremamente démodés), bem como não deve haver exames da moda.
Médicos (os tais softwares, ainda) não devem diagnosticar para agradar (nem receitar, nem pedir exames – mais aí não rima!).
Mas tudo isso tá ficando muito antiquado. Tão antiquado quanto um... disquete!
 

27 de novembro de 2012

No Olho ou na Balança?


De vez em quando surgem mães preocupadas com a perda de peso recente de seus filhos.
E a pergunta óbvia que nós fazemos:
- De quanto foi essa perda?
 
(... – gorjeios e criquilar no consultório, além da moto barulhenta passando pela rua...)
 
Perda de peso recente pode significar problema importante de saúde. A diabete, o câncer, os transtornos alimentares são alguns dos que vêm à mente.
Mas ela deve antes de tudo ser quantificada. E de preferência nas mesmas condições (mesma balança, mesma quantidade de roupas, etc.).
A investigação aprofundada, então, só se justifica nos casos em que essa perda foi real e sem outra explicação mais óbvia que não a presença de doença (por exemplo, a transferência de uma criança “enjoada para comer” para a casa de algum parente).
No mais das vezes percebemos que a diferenças de peso são mais percebidas pelos pais (avaliação subjetiva sendo influenciada pelos instintos paternos) do que real.
 

23 de novembro de 2012

Preguicinhas


Sabe cena em slow motion de filme de ação?
“Noooooooo!!!”...
Então. O feto dentro do útero materno se move sempre assim!
É líquido. É apertado.
Então tem que se mexer desse jeito.
Quando nasce, ainda é meio assim.
Até que, por volta dos 3 meses, começa a ter movimentos descoordenados súbitos, meio como quem leva sustos com os próprios movimentos.
E aí, o bebê que não faz isso e ainda se move da forma antiga, em slow motion, sinaliza com probabilidade muito grande a presença de lesão cerebral (antes mesmo que os exames de imagens como o ultrassom cerebral mostrem algo).
É um dos motivos para se levar o bebê mensalmente para as consultas de puericultura.
Essa avaliação neurológica por parte do pediatra é meio simples, mas pode revelar bem cedo algum problema que só se torna evidente para quase todos a partir dos 6 meses. 
 

20 de novembro de 2012

Nome Aos Bois


Identificar a causa da febre das crianças pequenas como “virose” já virou piada no mundo todo.
Mas o pior (ou melhor) é que na grande maioria das vezes a causa das febres é mesmo algum vírus!
Foi o que mostrou novo estudo deste mês.
Em 75 crianças abaixo dos 3 anos com febre acima dos 38ºC sem outros sintomas quaisquer (somente febre!), exames de tipagem viral no sangue ou em secreção nasal identificou vírus causador de doença em 76%.
O estudo conclui citando que nesta faixa etária a presença de infecção por bactéria (mais grave) sem outros sintomas a não ser febre gira em torno de 1%.
-Ah, então...
Devagar com as conclusões!
A maioria destas crianças precisa de boa avaliação médica (conversa, estetoscópio, otoscópio e palitinho na goela inclusos) para afastar clinicamente infecção mais séria.
Ainda é inviável se fazer exames para detectar os vírus mais comuns (adenovírus, herpesvírus, enterovírus) causadores dessas febres.
 

15 de novembro de 2012

Gostosuras ou "Eu Sou Madura"


Um dos vídeos que estão bombando na semana é o da menina de 3 anos de idade hiper-madura para a idade.
A mãe fica (meio maldosamente) incitando a mocinha:
“Filha, me desculpe, você queria doces no Halloween mas a mãe não pôde comprar. Você não está “louca” comigo, está?”
E a menina (visivelmente tentando se controlar, meio que enxugando uma lagriminha):
“Não. Eu não estou “louca”, eu estou somente triste...”
E a mãe segue espezinhando: “Você não está mesmo louca comigo?...”
A menina compreensiva vai desconversando a mãe o tempo todo (num inglês perfeito até para um adulto, ainda que algo gaguejado).
Desconversando a mãe e desconversando sua própria frustração, com a falta de consideração da mãe.
E no fim de uma conversa de adulta pra adulta a mãe descarada ainda pede um beijo, coisa que a menina concorda numa boa.
Raro. Hoje em dia, ainda mais.
Mas ao mesmo tempo mostra a capacidade (inata bem como aprendida) das crianças de serem compreensivas, de não terem que reagir com um “Buáá! Eu quero, eu queeeerooo!”.
 

13 de novembro de 2012

Capítulo À Parte


Se a gente parar pra pensar, é difícil chamar a maioria dos problemas alérgicos propriamente de “doença”. Fica muito pesado.
Até porque quase todos nós temos ou já tivemos alguma manifestação alérgica e não por isso estamos autorizados a nos dizer “doentes”.
E as alergias têm uma característica muito particular menos nítida em grande parte das doenças.
É a grande, às vezes enorme influência do emocional.
Alergias podem se transformar em problemas sérios se deixarmos nos levar por elas.
De vez em quando vemos alguém com rinite alérgica se queixar de que não pode trabalhar!
Conto sempre (e sempre sem entregar o santo, somente o milagre) de um meu paciente adolescente, criado pela avó rígida e super-protetora, que tinha crises seríssimas de asma. Via-se como uma criatura frágil, apesar do seu corpanzil.
A avó nunca aparecia à consulta. Pedia para outros familiares o levarem, talvez porque temia o que a ela se diria.
Quando finalmente compareceu e foi convencida da necessidade do neto se comportar como um adolescente normal, que deveria sair de casa, jogar bola, pular muro, se sujar, etc., o neto nunca mais apareceu: tinha mil coisas a fazer mais importantes que ficar “doente”!
Resolveu-se o problema do neto. Provavelmente agravaram-se os problemas da avó, quaisquer que fossem.
O pediatra “perdeu” um paciente (até porque já estava grandinho). O geriatra da vovó deve ter ganho mil problemas.
Fazer o que?
 

9 de novembro de 2012

Tiros no Escuro


Grosso modo, a estatística de doenças infecciosas em crianças pequenas (até 4 a 5 anos) é a seguinte:
De cada 10 crianças, 9 têm doenças causadas por vírus, com resolução espontânea e sem necessidade de antibióticos.
Dessa forma, apenas uma entre dez costumam ter doença bacteriana, com necessidade de antibiótico para resolução.
 
Então – você deve estar se perguntando – por que se usa tanto antibiótico pra essas mesmas crianças?
a) por desinformação médica (quanto à estatística acima)
b) por erro diagnóstico por parte do profissional
c) por pressa na “solução” do problema da febre, tanto por parte dos pais quanto por parte dos médicos (embora essa seja uma conduta na maior parte das vezes errada)
d) pela dificuldade de seguimento da criança (quando essa é atendida em serviços de emergência), o que também não deve ser uma justificativa válida (ainda que em alguns casos aceitável)
e) por simples falta de consciência profissional
 
Veja que dos cinco motivos citados, pelo menos três são de responsabilidade do médico (um dos fatores é mais relacionado a dificuldades estruturais dos serviços de saúde). Ainda assim, mudanças de atitude têm dependido mais da informação e tomada de consciência por parte dos próprios pais.
 

6 de novembro de 2012

Tic, Tac, Tic, Tac...


Não é a minha área e o tema é meio espinhoso, mas um estudo sobre o câncer de próstata ilustra bem os tempos neuróticos que a medicina atual nos faz viver.
Em 162 homens de várias idades falecidos por trauma se fez biópsia da próstata para verificar a presença de células cancerosas.
E, sem surpresa, se verificou que quanto maior a idade maior a probabilidade de se encontrar tecido canceroso. Na faixa dos 40 anos de idade essa incidência ficou em torno de 45%.
Veja bem: 45%! Ainda que a amostragem seja pequena, 45% representa quase a metade da população masculina!
Agora lembre-se das recomendações atuais para o screening do câncer de próstata: ao redor dos 40-50 anos de idade todo homem deveria se submeter a exames periódicos, blá, blá, blá...
Então, mesmo que você não seja muito bom em matemática, já percebeu que muito provavelmente quase a metade da população masculina que se submeta a esses exames preventivos vai ter a sua vida completamente alterada pela ameaça, pela nuvem negra de um câncer pairando sobre suas cabeças!
A próxima pergunta é: quem irá evoluir para sintomas? Quem se beneficiaria de tratamento (cirurgia, radioterapia, tratamento hormonal, etc.) e quem teria muito mais prejuízo (pessoas que vão morrer de outra coisa nas próximas décadas, como foi o caso destes pobres homens do estudo citado)?
Felizmente, boa parte da sociedade (médica bem como a leiga) já está começando a se dar conta da falácia do screening universal, da indústria do medo que estamos alimentando.
E a mama, e os problemas coronarianos, e o cólon (intestino), e...
Vale a pena estarmos vigilantes. Vale a pena pensarmos sobre o estilo de vida que queremos levar.
Tem gente que põe o despertador para daqui uma hora e dorme tranqüilo. Tem gente que conta cada minuto até o despertador tocar...
 

2 de novembro de 2012

TechnoKids


Feriado, ninguém está lendo esse blog, me ocorre de citar o que muito propriamente falou o comediante Nick Griffin:
“Gente, a criançada hoje em dia tem iPod, Iphone, Ipad, Wii, TV satélite... E se diz que têm TDAH! Graças a Deus, têm TDAH! Para poderem compreender tudo que as cerca!”.
“Na verdade, as crianças não têm déficit de atenção. Só estão tentando estar atentas!”
“Antes eu não pensava em ter filhos. Mas, agora, com o avanço da tecnologia, como os computadores estão ficando complicados, acho que preciso de um”.
“Você os põe ali, espera alguns momentos, e as coisas se resolvem!”.
Isso é engraçado? Ou é a mais pura verdade?