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30 de outubro de 2012

Interpretando o Nada


Não existe uma “interpretação de sonhos”, como queria Freud (eu sei, psicanalistas, não devo usar o nome de Freud em vão!).
Sonhos são historinhas que inventamos, como se fôssemos roteiristas de cinema, após uma grave concussão. Além disso, boa parte das lembranças após acordarmos já vem toda retocada pelo nosso subconsciente, usurpador de roteiros.
Estudos recentes têm mostrado inclusive que sonhos e pesadelos não costumam distinguir pessoas normais das com patologia mental, mesmo as mais graves.
Um detalhe: algumas medicações, estas sim, podem influenciar nos sonhos por influenciarem no sono e nas suas diversas fases.
Em crianças pequenas sonhos e pesadelos não passam de sensações (boas ou assustadoras). Ainda não possuem a capacidade de elaborar histórias concatenadas, durante o sono ou mesmo após o despertar. 
 

26 de outubro de 2012

Dados Esparsos, Urgente!


Curiosa a campanha do Itaú de estímulo à leitura para as crianças.
Começa com o fato da propaganda ter um belíssimo apelo visual – é uma superprodução publicitária. E é aí justamente onde reside um dos grandes inimigos da leitura. O visual pronto briga feio com a imaginação, com a capacidade criativa (mas ambos não são mutuamente exclusivos).
Um belo sapo pulando atrás da princesa deixa margem a pouca coisa a mais. E a leitura não é isso. Ou não é isso.
Por isso, os pais devem mesmo ser conscientizados da grande importância de ler para seus filhos. Os benefícios são muitos, e vão desde o estreitamento de laços afetivos à criatividade e capacidade cognitiva enormemente ampliada.
Pais viciados em gadgets mas avessos “àquela-volumosa-coisa-de-papel-cheio-de-letrinha-ótima-para-induzir-ao-sono-assim-que-se-pega” vão dando péssimo exemplo para os filhos. Que de resto estarão com a maioria, mas... é isso que realmente importa?
Estou começando a duvidar (mas devo estar errado) que a atual geração de crianças vá ter capacidade de seguir qualquer narrativa quando forem maiores. Seja num livro, numa revista, num filme tradicional, numa conversa “tradicional” ou mesmo numa pequena peça publicitária.
 

23 de outubro de 2012

Droga Hollywoodiana


 
Temos observado nos últimos tempos um recrudescimento no uso da escopolamina (Buscopan®) na infância.
A escopolamina tem o seu espaço como analgésico para dores tipo cólica, principalmente em crianças maiores (pelo menor risco) e em dores mais importantes e de curta duração.
Minha implicância é com o uso em bebês, e em especial nas famosas “cólicas” dos primeiros meses.
Totalmente contra-indicado, seu único efeito farmacológico se deve basicamente ao efeito sedativo secundário, que faz com que algumas crianças efetivamente “durmam melhor” (chorem menos). É a velha história de medicalizar incômodos.
A escopolamina, lembro sempre, é tão poderosa nos seus efeitos no sistema nervoso central que já foi usada como “droga da verdade”: seus efeitos alucinógenos – em doses mais altas – fazia inimigos confessarem segredos de estado em interrogatórios, fato também retratado em filmes como Os Canhões de Navarone, O Último dos Valentões, A Casa da Rua 92, Desafio das Águias, e Blood Hunt.
Como se vê pela quantidade de filmes que participou, já poderia ser uma droga candidata ao Oscar!
 

19 de outubro de 2012

A Gente Não Quer Só Bebida


De vez em sempre somos solicitados a esclarecer a barafunda nutricional em que se transformou o alimento líquido da criança (do pré-escolar, principalmente).
Tentando, então, dar uma luz na coisa, hierarquizando os alimentos segundo o valor nutricional (mas já com dois enormes adendos):
1º) aquelas coisinhas brancas que você, mãe, vê dentro da boca do seu filho são pequenos dentes, precisam ser usados mastigando alimentos sólidos de vez em quando, OK?
2º) água, embora não possa ser considerado “alimento” é uma prioridade, talvez principalmente pelo adendo acima: quem toma muita bobagenzinha, desloca a sede de água para outros líquidos: como conseqüência come menos alimentos importantes nutricionalmente, pois já se entupiu de calorias mais pobres – menos vitaminas, fibras, etc. Sem falar no potencial cariogênico (causador de cáries).
Mas vamos à tal hierarquia:

1) leite : grande fonte de cálcio e proteínas nobres. Claro, de novo, desde que o(a) cara não fique ali, até casar, mamando o dia inteiro, né? Lembrar que para muitas crianças lactose demais – o açúcar próprio do leite, não a sacarose acrescida em mamadeiras – incomoda: prende o intestino, causa gases que geram dores abdominais freqüentes (*motivo de muita consulta pediátrica, muita preocupação dos pais, muito exame desnecessário, muita confusão com outras causas de dores).

2) “leite” de soja: não esquecer que é alimento industrializado. Portanto – já por princípio – não deve ser consumido em excesso (como já disse um humorista, você não vê nenhum fazendeiro acordando de madrugada para tirar leite de soja da vaca!).
Há importantes diferenças nas composições nutricionais: os mais “grossos” (acrescidos ou não de sabor) têm até 5-6 gramas de proteína por copo. Os outros são quase que “suquinhos disfarçados”, com pouca proteína e muito suco de baixa qualidade.

3) sucos: ao naturais de muito, muito melhor qualidade nutricional (fibras, vitaminas), os “de pacote” são péssimos.
A água de côco pode ser aqui classificada (é, de certa forma, “suco de côco”): muito utilizada hoje em dia, meio mistificada como algo muito saudável, mas não é nenhuma maravilha.

(Ei! E os “chazinhos”? Um “capítulo” à parte. De novo, depende de como são utilizados. Chá de quê? Há ervas que fazem mal. Vão ser dados em excesso? Adoçados?...)
 

16 de outubro de 2012

Neuróticos-Hipocondríacos Anônimos


Difícil diferenciar às vezes o que é verdadeira hipocondria (mania de doença) do que é “apenas” uma neurose de overinformation (sobrecarga de informação e, por conseqüência, sobrecarga de preocupação), o que, no final das contas, dá no mesmo.
Chamemo-los (ou chamemo-nos, pois eu me incluo – e muito – nessa) de NH (neurótico-hipocondríaco).
E como saber se somos NH?
É fácil. O verdadeiro NH: 

√ faz check-list (horário!) de sintomas:
Dor de dente? Melhor. Palpitação? OK. Dor lombar? Ainda dói...
√ ao acordar, pensa: “Nossa! Deus me deu mais uma chance!”
√ conversa com bula: “Transtornos gastrointestinais? Mas de que tipo?”
√ se delicia com a surpresa do médico: “Poxa, nunca vi um desse tamanho!”
√ adiciona site médico aos favoritos
√ não acredita em acupuntura, mas também não duvida
√ se questiona: “Por que nunca precisei de um proctologista?”
 

12 de outubro de 2012

Quadro A Quadro


Se você tem mais de ... (deixa pra lá!) talvez lembre de um desenho animado da televisão chamado Jambo e Ruivão.
Era uma interminável sequência de breves capítulos em que quando um novo acontecimento se dava, lá vinha toda a recapitulação do episódio anterior – aparentemente para economizar o trabalho do roteirista, ou do desenhista.
Dessa forma, crianças do mundo inteiro eram mais ou menos embalados no soninho do sofá. Ou iam fazer coisas muito mais divertidas – como jogar bola de gude, por exemplo.
Hoje, não. Com exceção dos desenhos para bebês (bebês também precisam consumir, e mandam nos controles!) como os Backyardigans, a maioria dos desenhos atuais nos faz ficar pregados nas poltronas, se realmente quisermos nos manter a par da história.
Isso ocorreu no espaço de mais ou menos duas gerações.
O cérebro das crianças atuais teve então que se adaptar a essa velocidade toda.
Não foi uma adaptação darwiniana. Não se produziu por uma evolução genética, lenta, dada através de milênios.
Além disso, o efeito vai se produzindo em cérebros imaturos, susceptíveis, moldáveis.
E mais: hoje as crianças podem assistir à TV o dia inteirinho, 24 x 7 (pelo menos as “pobres” aquinhoadas com TV a cabo ou por satélite).
O efeito total dessa meleca?
Dentre outras causas, o diagnóstico muito mais frequente dos transtornos de déficit de atenção/hiperatividade que estamos observando.
Crianças irrequietas, excessivamente animadas, com carinhas de quem está morrendo de pressa para a próxima cena – seja na tela ou na vida real.
 

9 de outubro de 2012

Branca de Neve e Meio Anão


Quando se vê os panos pra manga que a aparente deficiência de crescimento gera, pode-se pensar que crescer abaixo do esperado é algo comum.
O crescimento das crianças tem a ver muito com expectativas, e muitas vezes as expectativas são claramente irreais – como no caso clássico de uma família baixa que espera que o filho seja alto.
Além disso, com freqüência se ignora que o crescimento é um fenômeno complexo, que tem a ver com genética, mas também com tempo individual (velocidade de crescimento), condição social, presença ou ausência de “interruptores” de crescimento (como doença ou uso de medicação – quase sempre reversíveis no caso desta última), condição psicológica (sim, fatores psicológicos interferem no crescimento!), etc.
Os fatores acima são muito mais frequentes do que problemas endocrinológicos, como a atualmente “famosa” deficiência do hormônio do crescimento (a “pílula mágica” dos baixinhos).
 

5 de outubro de 2012

Peixe Ao Rio


 
Qual a motivação do jovem para aprender uma coisa boa?
Essencialmente agradar a si mesmo agradando aos outros, mostrando que sabe.
E qual a motivação para aprender uma coisa errada?
A mesma!
Por isso a condução de quem deveria se interessar por ele, o monitoramento, a valorização do certo (que pode a ele até parecer errado) e a explicação do por que o errado é errado (que para ele pode parecer muito certo, até porque certo e errado se relativizam, muitas vezes para atender à interesses escusos da má sociedade – outro conceito relativo – e da sociedade de consumo).
Há gente que acha que educar um filho é como devolver um peixe ao rio, que ele encontra seu próprio caminho.
Seria bom, num riacho límpido, apenas com correntes favoráveis.
 

2 de outubro de 2012

Pôxa


“Com todos esses anos de experiência (ai! essa doeu!), alguma vez o senhor já viu algum caso parecido?”
Não. Na realidade, não tinha visto nada parecido.
E foi preciso, claro, contar a verdade.
Mas...
Serve tentar se colocar no seu lugar – ainda que impossível?
Serve a curiosidade de como isso vai evoluir, e estar realmente interessado no caso?
Servirá minha ignorância transformá-lo num paciente “VIP”?
Provavelmente nada disso funcionou mais do que se citasse “os inúmeros casos iguais àquele que eu tratei, e com o inevitável sucesso”.
E se era assim, era melhor mesmo que fossem atrás do médico mais experiente (ainda). Ou alguém especializado na área.
Se precisar de mim, tô aqui. Mesmo que pouco vá ajudar.
Mesmo que dê pitacos errados.
Mesmo que atrapalhe.
Mas é melhor do que muita gente pode fazer.
E sempre lembrando: quem tem experiência anterior com o teu caso?