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28 de maio de 2010

Fantasia


Tive um sonho horripilante.
Notei, ao me olhar no espelho, que aquela espinha de grandes proporções da minha pálpebra superior deixava agora para fora um rabo. Um rabo que se contorcia levemente.
Babando de ansiedade, peguei um papel higiênico e, segurando o corpo do que agora sabia ser uma larva, fui delicadamente puxando, para que a cabeça do bicho não se separasse do resto. Sentia segmento por segmento passando pelo orifício palpebral, como vagões se deslocando numa montanha russa.
Lembro-me claramente da sensação: além do evidente nojo, uma sensação gostosa, de alívio.
Aquele verdadeiro monstro de Loch Ness que se debatia depositado na pia do banheiro devia explicar muita coisa do que eu sentia ultimamente.
Minhas pálpebras mesmo, imediatamente rejuvenesceram. Meu corpo estava mais leve.
E aí, pus-me a pensar, que mais?
Claro, por isso tinha tanto sono! Má digestão, dor nas costas, também. E meus erros todos no jogo de basquete!

Todos os meses de maio, milhares de mães da nossa região acorrem aos postos de saúde. Buscam solução fácil (um remedinho) para problemas dos seus filhos. Quem sabe na administração daquele simples remedinho não saia de dentro da criança uma enorme larva que resolva tanto problemas atuais quanto futuros? Custa muito pouco tentar. Não custa quase nada acreditar.

25 de maio de 2010

Danos Celulares



Se você se tornasse paraplégico após um acidente de carro, teria pago muito caro individualmente pelo usufruto de um progresso tecnológico que beneficiou toda a humanidade.
Sempre foi assim. O que poderíamos chamar de mártires involuntários do progresso.
Aparentemente com o celular está acontecendo o mesmo.
É o que mostra um estudo realizado pela OMS recém-saído do forno.
Estudos assim são complicados e podem ser colocados em cheque, pois são retrospectivos. Buscou-se numa população de afetados por tumores cerebrais o histórico de uso de aparelhos celulares, comparando com não afetados.
O estudo ideal deveria ser prospectivo, ou seja, numa grande amostra populacional analisar a incidência de afetados pelo uso excessivo, o que seria inviável, basicamente pela baixa incidência global dos tumores cerebrais para que se pudesse concluir alguma coisa.
Ainda assim, recomenda-se cautela (principalmente porque – cita o estudo – o uso do celular só faz crescer; então estudos iniciados há 10 anos atrás já são defasados em relação ao atual nível de utilização).
Um grave tumor cerebral pela comodidade de falarmos ao telefone até mesmo no vaso sanitário.
É caro.
(a teoria causal fala de danos diretos ao DNA das células cerebrais pelo acesso circuitado das ondas eletromagnéticas canal auditivo adentro, escapando da couraça craniana).

Altos Motivos

O problema com os sons dos carros nos "bobódromos" é diferenciar o que é música do que é alarme.

20 de maio de 2010

Tribunal de Zombas


Deu no Estadão de ontem:

BELO HORIZONTE:
Um estudante da 7.ª série de um colégio particular de Belo Horizonte foi condenado a pagar uma indenização de R$ 8 mil pela prática de bullying (agressões psicológicas e físicas, intencionais e repetidas) contra uma colega de sala.
Em decisão publicada ontem, o juiz Luiz Artur Rocha Hilário, da 27.ª Vara Cível da capital mineira, julgou razoável o valor da indenização por danos morais e considerou comprovada a existência de bullying contra a adolescente G.V.S.G. A defesa dos pais do estudante vai recorrer. Na ação, a aluna do colégio Congregação de Santa Doroteia do Brasil relatou que, com pouca convivência, o colega passou a lhe colocar apelidos e a fazer insinuações, que se tornaram frequentes com o passar do tempo. Os pais da menina alegaram que procuraram a escola, mas não conseguiram resolver a questão.

Era só o que faltava.
Já pensou se a moda pega?
Podemos (eu, você, todo mundo) tentar retroagir e punir nossos antigos algozes.
Eu, de minha parte, vou processar – se estiverem vivos – o Zarolho (Valdenir), o Pança (também conhecido por Beto Batata), o P-Nico (Nicolau, hoje um grande cirurgião), o Avanço (homenagem ao seu famoso c.c.), o Rato e o Mudinho (qual era o nome dele, mesmo?), este último célebre por aplicar perigosas camas-de-gato, das quais todos sobrevivemos – não sem graves seqüelas psicológicas.
Se isso vai resolver o problema do bullying, tenho minhas sérias dúvidas (como se nós pudéssemos isolar e abolir manifestações menos desejáveis do convívio em grupo de crianças e adolescentes que, afinal, precisam desenvolver mecanismos de defesa). Mas não custa preparar os alunos para a chateação do politicamente correto em que elas viverão na idade adulta, não é mesmo?
Sem falar que há uma vasta quantidade de advogados sem ter o que fazer...

(é certo que há bulins – tá na hora de aportuguezar a coisa – graves, e é um problema social dos mais graves, mas aparentemente o caso da moça foi realmente um exagero punir)

18 de maio de 2010

Insociáveis


As questões que permanecem sem resposta são:
Quem tem TDAH (transtorno de déficit de atenção-hiperatividade), e quem é só “super-ativo”?
Quem não pode ficar sem tratamento sob pena de viver uma vida muito problemática com o seu transtorno?
Quem – como dizia um grande professor de neurologia – precisa só de um chinelo (na bunda, não nos pés, óbvio)?
Quem vai ter mais problemas com a medicação do que com as conseqüências da hiperatividade? O que dá pra perceber com anos (décadas) de polêmica é que aqui realmente cada caso é um caso.
E o que me deixa mais tranqüilo numa conduta muitas vezes mais conservadora, pouco relutante em aceitar medicamentos, é que sempre poderemos recorrer a eles.
Se a corda estica muito, usamo-los, sem problemas (ou com poucos).
Já se sabe que a maioria dos TDAH – mesmo os não tratados - na idade adulta poderão ser chamados de “normais”. Não vão morder ninguém na rua (ainda que às vezes possam chegar perto ou, pelo menos, rosnar feio para um ou outro).
Muitos se tornarão anti-sociais.
No problem. Conheço muito recluso muito mais interessante que os arrozes de festas (a única dificuldade é tirá-los da casinha!).

Marcella tem o talento no DNA – pois o pai é artista renomado – e desde o berço mostra uma singularidade no traço e no estilo. Tem o seu blog, onde podemos conferir os personagens dessa ex-“paciente” de 14 anos que nunca me deu trabalho mas sempre me encheu de orgulho.

14 de maio de 2010

Medicamente Correto


Estamos nos anos 2000 e tanto, anos em que a maioria dos ficcionistas do século passado (logo ali) imaginou que estaríamos voando pelas ruas em mini-discos à la Jetsons.
Nem chegamos perto.
Mas ainda tem médicos ingênuos que pensam que seus pacientes tomam tudo o que a eles se prescreve.
E ainda tem pacientes ingênuos que realmente tomam tudo o que a eles se prescreve! O maior motivo alegado é o tal do “Foi o médico que receitou, ele deve saber o que é melhor pra mim” (Será?). Mas acho que o real motivo seja a fraca interação em face do curto tempo destinado às consultas.
Quando o médico dá essa abertura (não seja malicioso, falo da abertura de saber se o paciente toma ou não, deseja ou não tomar a medicação prescrita), percebe um grande número de pacientes que de cara não planeja seguir o tratamento (estatísticas falam em ¼) e outro grande número de pacientes (mais ¼, aproximadamente) que logo deixa de segui-lo.
O maior acesso à informação tem mudado isso (já soube de paciente que abriu o notebook na frente do médico para conferir as informações em tempo real – aí também não, né?).
Queiram ou não, os médicos (os que ainda tiverem “invólucro flexível destinado a acondicionar objetos e/ou testículos” para exercerem a profissão nos novos tempos) terão que se acostumar com a idéia.

11 de maio de 2010

Fórmula Zero


Diariamente presenciamos exemplos da promíscua relação entre a gananciosa indústria e os meios de comunicação, sejam eles oficiais ou oficiosos (estes últimos seguem na tranqüila esteira da citação dos oficiais, amiúde mais perversamente promíscuos).
O exemplo desta semana é um estudo feito em vários centros do mundo (chamado multicêntrico, portanto, o que confere maior status) com a seguinte conclusão:
“Crianças que mamam leite de fórmula* têm o mesmo índice de infecções do que as que mamam leite do peito”.
(* o próprio termo “leite de fórmula” adotado pelos americanos é um eufemismo para “leite de vaca enlatado”)
Não vale a pena entrar no mérito da metodologia empregada no estudo. O que importa é a sua conclusão: quer dizer que todas estas últimas décadas estivemos mentindo para as pobres mães, com seus doloridos seios, empedrados, melecados, quando poderíamos tê-las poupado, já que “tanto faz”?
E mais: o que se lê nas entrelinhas (justamente porque várias outras comparações são deixadas de lado) é de que diferenças nos aspectos emocionais das crianças, diferenças na prevalência de alergias, diferenças na prevalência de doenças metabólicas também podem não existir?
Radicalismos são perigosos. E acho que as mães que por um motivo ou outro não queiram amamentar devem ter seu direito garantido (afinal o filho e o seio são ambos delas!). O que não se pode fazer é manipular dados e fatos largamente fundamentados em benefício de indústrias alimentícias que se vendem como “boazinhas”.
É um crime dos mais danosos para a sociedade em que participam sumidades acadêmicas que vendem suas almas ao diabo (provavelmente não por pouco).

Um pote de Danoninho para quem adivinhar a indústria que bancou o estudo.
Isso mesmo. Danone, que agora patrocina “estudos sérios” da área médica (será que ela tem interesse em que mães não amamentem?)

7 de maio de 2010

Homeo Sapiens


O controverso biólogo Richard Dawkins, ao comparar no seu livro “Deus, um Delírio” o “efeito placebo” das religiões à homeopatia, diz:
“Os homeopatas podem ser relativamente eficazes porque, à diferença dos médicos ortodoxos (principalmente nos Estados Unidos, onde a ausência de eficácia comprovada de determinado remédio pode levar facilmente à processos) têm sempre garantido o direito de prescrever placebos, sob outros nomes”.
Boa definição.
O mesmo autor ressalta ainda que homeopatas passam mais tempo com seus pacientes, além de serem mais gentis.
Receita perfeita para o sucesso profissional em tempos bicudos de tecnicalização excessiva da profissão médica.
E ainda com a vantagem de se passar longe dos livros da Farmacologia “Real”, muito mais complicada.

4 de maio de 2010

Corda Frouxa


Um dos meus blogs favoritos põe o dedo numa interessante ferida (ferida interessante, já viu essa?):
Diz lá:
Crianças de seis, sete, nove anos de idade devem ser levadas ao parque (ou à praça) para que se mexam e... ser deixados lá!
Curiosamente essa proposta acende debates acalorados nos pais atuais, pelo medo de que algo possa acontecer aos seus filhinhos queridos.
Mas – lembra a autora do blog – na nossa época não era assim? Então não sumíamos de casa a determinada hora e voltávamos no escurecer (e para desespero das nossas mães, ainda cheios de energia)?
O argumento mais ouvido (e até certo ponto correto) é de que os tempos mudaram. Há mais perigos rondando a nova geração.
Mas remexendo muito meus neurônios só conseguindo pensar num: há um trânsito de veículos mais pesado nas ruas de todo o mundo do que em épocas passadas.
Tarados, cachorros, buracos, colegas perigosos sempre houve.
Viver é e sempre foi perigoso. Superprotegendo seus filhos, pais correm um risco talvez ainda maior: transformar seus filhos em “grandes evacuadores” (quis evitar uma palavra mais feia), com prováveis conseqüências para a vida toda.
Pense nisso.
E pelo menos ajuste a corda para que ela possa ir mais longe.

...Porque mesmo Buda, se vivesse hoje, dificilmente suportaria alguém lhe gritando no trânsito a toda hora:
- Sai da frente, ô Budão!