Procure por assunto (ex.: vacinas, febre, etc.) no ícone da "lupinha" no canto superior esquerdo

29 de dezembro de 2009

Indivíduo, Aquele Que Não Se Divide


Uma coisa que deveria estar escrita na testa de todos nós, mas que acredito que não esteja apenas por absoluta falta de espaço é o seguinte:

"Embora exteriormente sejamos muito parecidos, só eu sei das meus desejos, das minhas ansiedades, do meu gosto e do meu nojo, das minhas profundas necessidades, dos meus picos, dos meus vales, dos meus temores mais ocultos, dos meus sonhos não revelados, do meu gozo e minha Gaza, do meu senso estético, dos pequenos caminhos que levam à minha estrada, das entradas bloqueadas.

Se quiser, me tolere, me compreenda, tente me acompanhar. Mas nunca, em hipótese alguma tente me decifrar"


Feliz 2010

25 de dezembro de 2009

Natal em Branco


Bobbie (este não é seu verdadeiro nome, nenhum brasileiro se chama Bobbie) percebeu que algo estava errado ao receber a carta do Papai Noel. Papai Noel não escreve de volta. Apenas lê, decide se sim ou não (na maior parte das vezes é sim, se o pedinte não for exagerado) e traz a mercadoria.
Mas... uma carta de resposta?
Abriu-a.
Lá estava:
“Caro Bobbie – este não é seu verdadeiro nome, sei:
Não pense que é por má vontade. É difícil pra vocês aí do hemisfério sul acreditarem, mas a coisa aqui tá branca. Branca de neve (me desculpem a expressão). Meu trenó tá congelado, o nariz da rena tá congelado (parece uma bola 8, de duro que tá), até meu saco... Bom, estamos realmente sem teto, sem condições de vôo.
Então, já viu: vão daí vocês! Dessa vez é sem presente.
Eu sei que essa coisa de presente é só simbólica. Sei que vocês não dão a mínima, não são sujeitos interesseiros, materialistas, acumuladores de bugigangas.
O Natal é uma festa pra reunir família. Pra rever parentes distantes. Pra abraçar aquela vovozinha que já nem lembrávamos que tínhamos mais, não é mesmo?
Bola pra frente (espero que aquela bola do ano passado você ainda tenha). E quem sabe no próximo ano, se esses fenômenos climáticos não se repetirem...
Do seu (aliás, de todos):
Noel”
Bobbie redobrou a carta. Poderia esperar por tudo, até por um CD de sucessos do Calypso. Mas por essa nunca esperaria. Nada de presentes no Natal? Que Natal é esse? Ouvia falar de espírito natalino, mas isso era ridículo.
Nem esperou a ceia. Foi direto pra cama, derrotado.
Afinal, 365 dias passam rápido. Ou se consolaria com a Páscoa...
Espera! Mas, e aquela coelhada, vem daonde?

22 de dezembro de 2009

Especialistas em Coisa Nenhuma


“As pessoas devem ser respeitadas na sua individualidade”.
Alguém acha que não?
Entretanto, num mundo que nos prega o individualismo, mas que nos põe na camisa-de-força do consumismo, do que é “correto” (politicamente, ecologicamente, filosoficamente ou eteceteramente), nos vemos muitas vezes agindo de forma contrária a este princípio.
E é assim nos tratamentos médicos. Cada vez mais cheios de “protocolos”, baseados em estudos, nas – palavra da moda – “evidências”, somos impelidos a orientar mudanças nos hábitos de vida, a prescrever tais e tais medicamentos (muitas vezes em combinações “indiscutivelmente superiores” – com o pequeno inconveniente de serem mais caras - às substâncias isoladas), a solicitar exames questionáveis ou dispensáveis, e a toda hora darmos uma de chatos.
Mas, espera... Impelidos por quem?
Pela “concorrência” do médico da porta ao lado (que é mais “chique”, pede exames de última geração, que prescreve remédios que acabaram de ser anunciados, que tem PhD em... como é mesmo o nome da cidade?). Pela mídia (ah, essa mídia!...) que, ao ignorar o medicamento “da moda”, nos faz ficar com cara de desatualizado. Pela avalanche de informações a que o atual paciente está exposto (e contra avalanche, você sabe, uma frágil cabana não é suficiente). Ou somente pela – sei lá – pela sensação de “pertencermos” (assim mesmo, sem grande senso crítico!).
Então, estamos aí, tentando fazer tudo do modo esperado. Ou, quando muito do que está aí nos dá alguma revolta, apenas nos sentamos e perguntamos para o paciente:
-O que é que você quer de mim?

18 de dezembro de 2009

Saudosa Meleca*


Se você que me lê agora consegue lembrar com alguma força (eu tive que fazer mais força que você) da sua infância, vai reparar que mesmo aquele remédio que você teve que engolir no método “goela abaixo” (por exemplo, aqueles antibióticos que no meu tempo tinham todos gosto de náusea-laranja, ainda não dispúnhamos do delicioso vômito-morango), mesmo aqueles passavam uma reconfortante sensação de “estou sendo cuidado”.
Faziam mal por um lado, mas mesmo quando ainda éramos muito novos para entendermos para que servia aquela gosma aromatizada percebíamos na nossa intuição infantil de que aquilo era para nosso bem.
Assim como os pequenos castigos ou tapas na bunda, ainda que naquele caso aparentemente não havíamos feito nada de errado (ou havíamos?).

* não sei se alguém percebeu a homenagem ao eterno sambinha do Adoniran...

15 de dezembro de 2009

Pra Onde Vai Nossa Insulina?


Já estávamos carecas de saber que com as mudanças para pior no estilo de vida, as chances de vermos mais casos de diabete tipo 2 nas crianças só iriam aumentar (e têm aumentado!).
O que tem causado muita preocupação, no entanto, é o aumento também dos casos de diabete tipo 1, em crianças tão pequenas quanto as menores de 5 anos de idade.
E por que tanta preocupação?
Porque o que acontece na diabete tipo 1 é comparável ao surgimento de uma área desértica provocada por queimadas. Não tem volta. Não tem replantio (enquanto que na diabete tipo 2 ainda há alguma esperança de “replantio” de função insulínica - com mudanças como exercícios e melhor alimentação).
E por que isso está acontecendo?
De novo, também aqui (como nas estatísticas da obesidade e do diabete tipo 2) modificações genéticas não podem ser usadas como justificativas para tão rápidas mudanças (a incidência da diabete tipo 1 tem dobrado nas pequenas crianças no espaço de uma década).
Há mais dúvidas do que respostas para o que se vê (especula-se como fatores causais o aumento do número de cesarianas, a deficiência de vitamina D, o menor número de infecções banais na infância, etc.).
Uma das causas mais prováveis seria a introdução precoce na alimentação do bebê de alimentos à base de cereais ou industrializados. Facílimo de mudar, com conseqüências tão importantes, mas que contraria interesses tanto das indústrias alimentícias quanto das vovós e titias apressadas para dar bobagens.

Sem Clima

-Gente, essa reunião não tá dando em nada! Pensei que a gente tava aqui tratando da salvação do planeta e não dos interesses próprios.
-Isso aí. O único que até agora falou bem foi o ministro Kiu Lihn, cuidando dos interesses do clima.
-Clima? Quem falou em clima? Tô falando dos intelêsse da China! Foi êlo de tladução!
-Ah, quer saber? Ficam aí com essa coisa de derretimento de gelo... Na minha casa tá sobrando gelo! Dá pra seis copos de uísque. Nem precisa abrir a porta da geladeira!
-Pára com isso, Sarkozy, que a Carla Bruni falou que você não é nenhuma Brastemp...
-Ah, não. Vão começá de novo! Não brinco mais. Tô saindo fora. Tô cheio de encomenda de chocolate. Dizem que aqui em Copenhague o chocolate é da hora. Tchau!
-Ei, Lula, espera, não vai levar todos os de licorzinho não, hein!

11 de dezembro de 2009

Rápidos no Gatilho


A coisa está mudando. Mas ainda há muitos pais que - me desculpem - ainda se comportam de maneira muito parecida com o cachorrinho acima (o Odie, do Garfield, esperando o dono atirar a bolinha):
No primeiro indício de febre, ficam:
-Antibiótico? Antibiótico? Antibiótico?...
Claro, há a ansiedade com uma possível evolução perigosa de um processo infeccioso.
Mas acredito que um grande (senão o principal) motivo por trás dessa pressa toda é o motivo que faz girar a economia no mundo: temos pressa. Não agüentamos mais esperar por nada.
-Me dá logo esse antibiótico... que eu tenho que levar meu outro filho pra escola.
-Me dá logo esse antibiótico... que nós temos que viajar pra praia no fim de semana.
-Me dá logo esse antibiótico... que eu não quero mais uma noite me preocupando (afinal, eu preciso saber se a Luciana vai ter alta do hospital).
-Me dá logo esse antibiótico, pô!
Não adianta explicar que... Não, não adianta!

8 de dezembro de 2009

Os Donos da Faca


Quando um paciente pediátrico vem de uma consulta com um especialista da área cirúrgica – seja ele um otorrinolaringologista, um cirurgião torácico ou um neurocirurgião – e lhe foi recomendado um procedimento cirúrgico ou quando eu tenho que encaminhar meu pequeno paciente para os mesmos, costumo lembrar aos pais:
- Lembrem de quem é o dono da faca!
Cirurgiões têm normalmente a vocação para o ato cirúrgico e na maior parte das vezes gostam de operar. São os donos das facas. E muitas vezes pagaram caro por elas – ou pela sua manutenção.
Além do mais, no caso de cirurgiões-professores, “cirurgiões-estrelas”, precisam ainda em muitas situações criar casuística, ou seja, quantos mais casos tratados com esta ou aquela cirurgia melhor pra ele (terá mais o que mostrar e discutir em congressos, terá maior prestígio associado ao número de pacientes tratados).
Por isso, não vá assim se entregando de corpo e alma (mais corpo do que alma, espero) ao cirurgião sem antes pensar no seu clínico geral (ou pediatra) como alguém que possa pesar a real necessidade cirúrgica da sua patologia.

4 de dezembro de 2009

Cruz!


Umas das coisas mais bobas nas quais topamos a toda hora nas duas últimas décadas são as tais “Dieta da(o)...”.
Tem dieta de tudo quanto é tipo.
Pense numa bobagem enorme.
Vou ajudar: “A Dieta do Bode Velho”. Foi o que me veio à cabeça.
Vai ver que tem. E com todas aquelas explicações de porque o bode velho é tão saudável até o fim da sua vida, porque o bode velho morre menos de câncer do que o ser humano (lógico que uma razão esquecida é que há menos exames preventivos para bodes), porque o bode é mais musculoso que o homem médio, etc, etc, etc.
“Dieta da Maria Fumaça”: uma locomotiva dura mais que um homem, normalmente. Principalmente se bem “azeitada”. Claro, então você deve se servir largamente de azeites às refeições, e blá,blá, blá...
Quer outra?
“A Dieta de Jesus e de Seus Discípulos”.
Achou que era mais uma invenção?
Pois é. Tem mesmo.
Dum médico de família americano, formado em 1987 (esses médicos formados em 87!...), descrevendo com detalhes bíblicos o porquê Jesus e seus apóstolos eram mais saudáveis, pode?
Pelo jeito pode, porque é um best-seller no setor “dietas” das livrarias.
Tem trouxa pra tudo (olha, desculpa se você comprou – deve ter sido só por interesse histórico-religioso, não é?).
Talvez você deva estar se perguntando: mas Jesus não era filho do Óme? E se era filho do óme talvez nem precisar comer precisava, não é mesmo? (Eu, como filho do óme viveria de Chips e Coca-Cola - não light!).
E outra: andando pelos desertos daquele jeito não havera de ficar magrinho de todo jeito?
Então!
Dúvidas...

1 de dezembro de 2009

Menino ou Menina?


Não sei se você sabe, mas como mostrou reportagem recente no canal CNN (só achei a mais antiga, de 2002, para linkar), escolhas do sexo do futuro pimpolho já estão sendo feitas por aí.
A técnica, chamada de PGD (sigla inglesa para Preimplantation Genetic Diagnosis, ou Diagnóstico Genético Pré-Implante) consiste em se retirar uma fração do embrião (bem no início da divisão celular que resultará posteriormente num feto) para análise dos cromossomas (os tais XX ou XY, lembra?). A partir daí, baseado no resultado – futuro menino ou menina - escolhe-se se será re-implantado ou não para o prosseguimento da gravidez.
O desenvolvimento da técnica teve (e ainda tem, se acreditarmos nas boas intenções dos cientistas) origem mais nobre do que a escolha do enxoval azul ou cor-de-rosa.
Serve para a escolha de embriões saudáveis de casais com história de problemas genéticos importantes (como a fibrose cística, anemias de causa genética, distrofia muscular, etc.).
Está sendo, porém, como muita coisa na Ciência Moderna, desvirtuado para um uso mais “bacaninha” (“Já temos três meninas, mas queremos taanto um menino!...”).
Caríssimo (mas se a coisa pega vai barateando), sujeito a falhas (ainda que poucas no caso da escolha do gênero, menos de 1%) e principalmente sujeito a intensas discussões éticas.