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29 de janeiro de 2008

Você É Uma Obra-Prima



Se o exercício da Medicina é, como se diz, uma arte, o tratamento do paciente obeso é equivalente a uma obra-prima.
E nenhuma “Guernica”, nenhuma “Monalisa” ficou pronta da noite para o dia.
A obesidade é sempre multifatorial (causada por vários fatores, desde o genético – quase sempre o principal – até fatores psicológicos que, se não são tão importantes a princípio, acabam por vir “a reboque” em quase todos os pacientes).
E não são também as famosas obras-primas fruto da combinação do insight do criador, da felicidade dos traços, da harmonia das cores, mas, principalmente, do esforço do artista? *
Há que se ter, então, algo da sensibilidade do artista, do amor que este nutre pela sua obra, para se tratar uma pessoa assim.
Bem como o entendimento adquirido de que, se o resultado não é exatamente o que a princípio se esperava, ainda assim valeu muito a pena.

*Apenas que, no caso da obesidade, o esforço deve ser tanto do “artista” quanto da própria “obra”.

24 de janeiro de 2008

Salada



O médico, ao suspeitar de que seu paciente tem problemas de origem psicológica (associados ou não à doença orgânica) normalmente o encaminha para profissionais da área da saúde mental, psiquiatras ou psicólogos.
A partir daí, o que ocorrerá com o paciente? Passará por uma breve terapia? Fará psicanálise?
Para a maioria dos médicos esse encaminhamento se parece mais com um “passar a bola”. Médicos costumam estar ignorantes do tipo de tratamento ofertado. E pacientes, muito mais ainda.
Ao primeiro contato com o psicólogo ou psiquiatra o paciente (e, principalmente, o médico que o encaminhou) deveria ter uma boa idéia da linha de tratamento adotada pelo profissional.
Se o caso é para psicanálise, há que se considerar, como abordam Stephen Mitchell e Margaret Black no seu excelente “Freud and Beyond” (ainda sem edição em português) a grande heterogeneidade das escolas psicanalíticas.
Teóricos da psicanálise que de certa forma complementaram (ou quase reformaram totalmente) as idéias de Freud, do início do século passado, deram caras totalmente diferentes aos tratamentos psicanalíticos (dependendo se o psicólogo é neo-freudiano, kleiniano, lacaniano, trabalha com a psicologia do ego ou do self, por exemplo).
Para complicar, terapias breves (as mais em voga hoje em dia, por tentarem apresentar resultados mais rápidos) também se baseiam em uns ou outros autores.
No fundo, contudo, o que realmente importa é a sensibilidade e perícia de cada profissional.
Segundo os próprios autores (citados acima) no final do seu livro, a grande meta do tratamento psicológico seria “lidar fundamentalmente com pessoas e suas dificuldades, transformar relacionamentos em compromissos com o auto-entendimento inter-pessoal mais aprofundado, além de dar um sentido mais rico às pessoas, associado a um maior grau de liberdade”.

21 de janeiro de 2008

Febre Verde e Amarela



"Morro num país tropical..."
É. Na verdade, na música do Jorge Ben (hoje Jor) é "moro".
Mas com as notícias sobre a febre amarela andamos com a velha sensação de vulnerabilidade ainda mais aflorada.
Quando eu, você, nós todos ouvimos falar em febre amarela, pensamos em quê?
Pelas notícias televisivas - que é o que, em última análise, abastece o povo de informação - se percebe o seguinte:
É, voltou. Era uma doença de um passado meio distante - de "Dons João" e "Dons Pedro" - mas agora voltou. O que aconteceu? Falha de quem ou do quê? Mas... tem vacina pra isso, né? Então é só vacinar a moçada e fim de papo!
Febre amarela (assim como a dengue) depende de uma palavrinha básica: vetor. Tem vetor (nesse caso, mosquitos) tem febre amarela e tem dengue (e esquistossomose, e leishmaniose...)
Então o que falha em termos de controle (ou pelo menos, em termos de esforços para controle) é sobre o vetor, uma porcariazinha de mosquito. Que, tudo bem, gosta mesmo - como o músico - é de um país tropical, com florestas e clima quente.
Mas, gente, a notícia é a mesma desde o descobrimento do Brasil! Não dá pra dizer que a gente não sabia.
E a vacina?
A vacina é (ou deveria ser) exceção. Para um ou outro.
De novo, pelo noticiário parece que é assim que se acaba com doença tropical.
Posso parecer exagerado, mas o combate ao mosquito* deveria ser nos moldes dos cartazes dos bandidos procurados dos antigos filmes de faroeste. E oferecendo recompensa.
(*Febre amarela é endêmica no Brasil. Significa que sempre haverá uma quantidade x de casos. Embora a presença do mosquito Aedes - originalmente transmissor da dengue, mas que "dá carona" à febre amarela nas cidades - complique o problema, o alarme com a doença é típica dos tempos modernos: é mais uma doença de excesso de mídia. Lembra da cólera de alguns anos atrás?)

18 de janeiro de 2008

Crueza



(se você leu “Creuza” volte para os bancos escolares ou consulte um oftalmologista)

Farmacoeconomia.
Um novo sistema – mais “direto” e “sincero” – que começa a vigorar entre laboratórios farmacêuticos multinacionais e países carentes em pesquisa.
Deve funcionar mais ou menos assim:
Vocês têm a doença – quase sempre doença “de pobre”, vinculada a maus hábitos higiênicos ou más condições sociais (por exemplo, esquistossomose).
Nós (eles, os grandes laboratórios) pesquisamos as medicações. Que nem sempre vão levar à cura, muitas vezes apenas ao controle da doença, também muitas vezes associados a importantes efeitos colaterais (que nem sempre vão ser levados assim tão em consideração, já que “business are business”).
Como vocês (nós) não têm grandes opções, fazemos as contas de quanto se acha que é razoável de transferência de recursos – do SUS ou do Sistema Complementar de Saúde - à fonte pesquisadora (grandes laboratórios). Estas contas envolvem, dentre outros fatores, a economia do dinheiro que de outra forma seria destinado a tratar complicações e seqüelas da doença em questão.
Tudo perfeito.
Transferência direta do dinheiro público dos países subdesenvolvidos para as grandes corporações dos países desenvolvidos.
O preço?
Exatamente o custo da falta de investimentos em saneamento, da falta de educação pública em saúde, do ralo do dinheiro destinado à contenção das seculares epidemias.
Que, se (Quem?) quiser, vai continuar alimentando a prosperidade dos grandes laboratórios por muito tempo ainda.

Medida do Sucesso:

-E aí, como é que vai aquele teu negócio?
-Ih, rapaz, vai devendo e poupa!

14 de janeiro de 2008

Nasce Para Todos



Este é o verdadeiro "olhar 43" de que um dia falou Paulo Ricardo. Aproveitem mulheres, porque no final do ano é 44.
(Quem é metido? Tô falando do peixe na parede, um verdadeiro gato!).


Aproveitando o cenário piscoso (piscoso se refere a peixe, nada a ver com a piscada do canastrão da foto!):
O sol. Ah, o sol! O astro rei!
Uma benção. Tudo de bom.
Mais ou menos.
Todos já sabem que muitos de nós (principalmente aqui no sul do país, gente branquela de origem européia) não podemos dar bobeira. Praia, por exemplo: é sombra mesmo. Devíamos inclusive mandar cobrir um por um esses grãozinhos de areia, pequenos refletores de radiação.
Mas a conversa aqui é outra.
Ainda que verão, vejo uma leva de mães preocupadas - vejam vocês - com vento, sereno, "gelado", essas bobagens. Quanto ao sol, porém, dão menos importância.
Pois é ele o grande (literalmente!) inimigo da saúde das crianças no verão.
Em situações de exposição prolongada - principalmente nos horários críticos - propiciam a queda de imunidade, a brecha que viruzinhos tanto almejam.
Além disso, é fator predisponente importante para as freqüentes crises enxaquecosas.
Então, mamães, cuidado com o que realmente importa.
E, como diria o Ziraldo, nesse verão deixa o minino tomá sorvete no sereno ventado!

(obs.: é a primeira - e, esperam vocês, a última - vez que ponho foto minha no blog - exceto a que me identifica, na testa da página. São, sim, a mesma pessoa! Prometo tentar evitar nova agressão - pior do que a do próprio sol - para seus pobres olhos.)

11 de janeiro de 2008

O Que Não É Espelho


“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” * (Vinícius de Moraes)

Se quiser negue você.
Eu é que não vou ser cara-de-pau de negar a enorme, poderosíssima capacidade de sedução do belo.
Ocorre que a beleza é comparativa. Não há como todos serem belos, pois a beleza desapareceria.
Felizmente (principalmente para os não agraciados), a beleza é indissociável de outro componente: a subjetividade. É o tal do “que é belo para você pode não ser para mim e vice-versa”.
E cabe à maioria dos mortais (menos belos que os “verdadeiramente belos”, aqueles que são quase – e há sempre um “quase”, note – unanimidade) lembrarem constantemente disto: da beleza que está nos olhos de quem a vê.
E por que a preocupação com esta beleza, agora?
Porque muitos adolescentes (de todas as idades e em ambos os gêneros) dedicam uma vida na busca – e admiração – do belo. Busca incessante e ponteada de angústias.
“Culpa” da mídia?
Essa é fácil. Claro que é culpa da mídia. Não só dela, mas principalmente. A mídia reflete o que é humano, a atração pelo belo, e a amplifica, pelos mais variados interesses, quase todos de ordem comercial. Cabe a cada um de nós – principalmente aos pais das cabecinhas imaturas – fazer o alerta e a crítica.

* Desconheço o contexto do comentário, mas Vinícius certamente não tinha a intenção de transformá-lo em dogma.

8 de janeiro de 2008

Caminhão de Japoneses


- Ah, pega lá aquela pomadinha na gaveta. É tudo igual!
Pomadas de corticóides (agentes antiinflamatórios para alívio de irritações, inchaços, picadas de insetos, etc.) são muito úteis - e utilizadas. Mas, principalmente em crianças, há que se ter em mente algumas informações importantes:
Imagine que você tivesse retirado toda a pele de uma criança de 1 ano de idade (não tente fazer isso em casa!) e espalhado pelo chão, como naqueles tapetes das casas nas montanhas. A área deste “tapete” (a superfície corporal) é, digamos, x (sempre o x, né?).
Agora faça o mesmo com um adulto (não comigo...). Esta área vai ser aproximadamente 2x (o dobro, para quem é ruim de matemática).
Agora, pegue o peso:
Criança de 1 ano: ± 10 kg.
Adulto: ± 70 kg (pelo menos 7 vezes mais)
Então, a relação entre a superfície corpórea (o “tapete de pele”) e o peso é muito maior na criança.
E o que isso quer dizer?
Quando se passa pomadinhas de corticóide (presente em inúmeras formulações associadas, por exemplo, com antibióticos ou remédios para fungos) há que se lembrar que estamos medicando uma área proporcionalmente muito maior em crianças do que em adultos (com chances bem maiores de efeitos colaterais*).
Além disso, pelas diferentes espessuras da pele em diferentes regiões do corpo, também precisamos ter cuidado. A área do escroto e das pálpebras, por exemplo, tem uma absorção do medicamento 42 vezes maior do que do antebraço!
Fraldas são outro problema: funcionam como curativos oclusivos, aumentando muito a ação do remédio (imagina, então, um corticóide de alta potência no escroto de uma criança usando fralda...).
Outras duas diferenças importantes:
Pomadas têm base gordurosa, não espalham tão bem quanto o creme. Também têm efeito maior (funcionam como oclusão no local aplicado).
Diferentes marcas têm concentrações (e potências) distintas (a diferença pode estar escondidinha na bula, na forma de porcentagem).
E então, continua achando que “pomada é tudo igual”?
* Alguns efeitos colaterais de corticóides em excesso podem ser bem sérios, como a síndrome de Cushing e alterações no crescimento.

4 de janeiro de 2008

Na Pele de


Embora esteja com o tempo (ah, esse tempo!...) amarelando, eu às vezes acordo meio Rosa. Então, num desses pretensos dias, andei modestamente redefinindo certos termos médicos (entermos):

Bradicardia: coração de bater quase esquecido
Conjuntivite: arremelejo na janela d’almardida
Pum: ventando tripa
Enurese: lençol d’água dum gostoso quentin
Morte: des-clique nas idéia
Morte de ancião: desencaducadamento
Derrame: cerebrochado

E a
Ode Genética (à maneira, presunçosamente de, sei lá, Millôr?)

Papai e Mamãe:

Fazendo um balanço
Da carga genética
De vocês herdada
Notei um avanço
Na parte estética
Quanto ao mais, nada

Revejo, agora, na minha prole
Com um sorriso aberto
Dois braços fortes
Uma bunda mole
E um futuro incerto

(nas próximas postagens voltaremos - emos? - a assuntos mais sérios)