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29 de maio de 2007

(B)Esteira

- A minha filha está meio gordinha, então comprei pra ela uma esteira. Mas ela não quer fazer de jeito nenhum...
Resposta:
- Ora, mas isto é por que você não comprou o kit completo!
- Kit completo? Como assim?
- Faltou a argola de ferro e a chibata.
Gente: exercício físico para crianças e adolescentes (como de resto para qualquer idade) deve ser algo lúdico, divertido! Ou, no mínimo, menos parecido possível com uma sessão de tortura.
Senão dois problemas óbvios ocorrerão:
Seu filho(a) provavelmente odiará fazer atividades físicas com o passar do tempo.
Além disso, parecerá a ele(a) que há um castigo a ser pago por apresentar sobrepeso ou ser obeso.
Então, quando pensar em atividade física (indispensável, devendo ser diária para qualquer criança, obesa ou não, é bom que se diga*), estimule que faça algo mais parecido com o que fazíamos no nosso tempo – tempo em que batata dava em árvore: saíamos de casa no início da tarde e voltávamos à noite, “inventando arte”. Interessante, me lembro bem das milhares de peraltices que fazíamos, mas não consigo me lembrar do que comíamos nestas horas (possivelmente nada, pois “não dava tempo”).
Claro, dirá você: os tempos são outros. Concordo inteiramente! Com essas reminiscências estou apenas tentando dizer que, se tivéssemos esteiras naquela época (Já havia? Ah, já: os Jetsons foram os inventores!) talvez fizéssemos bom uso dela para outros fins, como lança-tortas, por exemplo (aviso: para um bom lançamento, há necessidade de que a esteira seja elétrica).
*Outro detalhe importantíssimo é que atividade física não deve ser feita pra perder peso, e sim porque é importante para a saúde, porque o ser humano não foi feito para não se mexer!

25 de maio de 2007

Free


Quer mais um motivo para evitar que as crianças consumam muito refri?
A possibilidade (embora ainda não confirmada*) de que cause câncer de esôfago.
Foi o que sugeriu um pesquisador indiano em congresso nos Estados Unidos.
Segundo ele, a simultaneidade na elevação do consumo de refrigerantes e dos casos de câncer não deve ser coincidência (embora se reconheça que estudos epidemiológicos – aqueles que apenas verificam dados da população com o passar do tempo - não possam confirmar a relação de causa e efeito). O autor da pesquisa relata que a exposição freqüente do esôfago a líquidos ácidos (pH abaixo de 4) propiciaria a transformação das células que revestem o esôfago. Somado a isso estão os níveis crescentes de obesidade, um facilitador de refluxo do conteúdo do estômago para o esôfago, aumentando a exposição ácida do esôfago.

*Pode-se imaginar o lobby existente para que pesquisas do tipo não sejam realizadas (ou pelo menos divulgadas). Além do mais, pesquisas para se confirmar causa e efeito quando se trata de alimentos costumam ser muito longas e cheias de confundidores, o que dificulta resultados conclusivos, infelizmente.

No supermercado onde faço compras, acabaram de instalar um sutil refrigerador cheio de refrigerantes praticamente obstruindo a passagem de quem quer apenas comprar água. Já, já vão inventar um com rodinhas e sensores que realmente não nos deixarão passar.

22 de maio de 2007

Réloou!


Não estou me arvorando no direito de dizer se é certo ou se é errado, mas adivinha qual a companhia telefônica que estará solidificada na cabeça do seu filhinho daqui a alguns bons anos?
Dois minutos para responder...
Tim, tim! Cinco reais de crédito para quem disse: Oi, Claro.
Com a simples sacada de dizer o que quer aos adultos durante todo o comercial veiculado na televisão e terminar com uma curta palavrinha – o feliz nome da companhia – dita por belas crianças, a Oi, não por acaso (isso é trabalho conjunto de empresários, publicitários e psicólogos, como mostra o filme inspirado no livro “The Corporation”, de Joel Bakan), semeia para o futuro.
São poucas as crianças que conseguem deixar de repetir o mote da empresa logo após ouvi-lo, como quem inconscientemente repete um bocejo: Oi!
Mais eficiente (e mais barato) que um Ma Che Pasto Felice*!

* McLanche Feliz, na Itália.

18 de maio de 2007

Sobre Pressão


Sei que não é Natal, mas sabe aquela musiquinha:
“Seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem...”?
Pois é. Em relação à hipertensão arterial (pressão alta) também é assim:
Para o “comilão”: seja gordo ou seja magro, a hipertensãozinha sempre vem !..
Esqueça os fatores genéticos (que também aqui são importantes, porém um pouco menos). Pessoas (crianças ou adultos) que costumam comer demais, tenderão a ter hipertensão arterial.
E não é só pelo fato de ingerirem mais sódio no geral ou pelo fato da obesidade - nos que são propensos a ela – criar mais fatores que “alimentam” a pressão alta (como alteração dos lipídeos, da glicemia, da resposta da insulina ao excesso de alimentos).
A “comilança” induz a um maior funcionamento do chamado sistema nervoso simpático, que dentre outras funções, é responsável pelo aumento da freqüência e força dos batimentos do coração, aceleração da respiração, mobilização e “queima” das reservas de gordura e carboidratos, etc. Justamente com funções como esta, o organismo tenta compensar o excesso de energia adquirido.
Quando, então, o comer demais vira rotina, é como se a máquina estragasse, e passasse a funcionar sempre desta forma: sistema simpático sempre ativado (para queima calórica), com coração sempre “ativado”, sistema circulatório (principalmente as pequenas artérias, chamadas de arteríolas, onde o “defeito” básico da hipertensão se situa) sempre “ativado”.
Some-se a isso: sal em excesso (na alimentação moderna), açúcar em excesso (levando a um esgotamento da capacidade da insulina em lidar com a glicose*), vasos (grandes artérias) em processo de formação de placas ateromatosas (dentre outros motivos pelo excesso de gordura “ruim”, o LDL-colesterol), stress (outro grande fator da vida moderna, seja em crianças ou adultos), e temos aí os motivos desta verdadeira “epidemia” de hipertensão arterial vista nos últimos anos.
Por este motivo, o pedido às mães (e, principalmente às avós): deixe os seus filhos (netos) saudáveis que comem pouco, comer pouco! Não os transformem em comilões pelos variados estímulos para comer.
*A insulina, hormônio produzido no pâncreas, é sabidamente um dos ativadores do sistema nervoso simpático. Lembrando que, quanto menos a insulina funciona, mais ela é produzida pelo organismo (até certo ponto).

15 de maio de 2007

O Ente Espelho


Em primeiríssimo lugar, não devíamos estar tão preocupados assim com aparências, mas este é o mundo em que vivemos – infelizmente, neste aspecto, eu diria – então vamos lá.
Há por aí milhares e milhares de pessoas – de todas as faixas etárias – querendo ser diferentes na aparência, buscando uma aparência física ideal. Por mais que se tente incutir nestas pessoas a noção de que aparência é um atributo basicamente genético, não há jeito: a vontade - a necessidade, até - de se ver transformado em algo belo, objeto de desejo dos outros, costuma ser muito maior que a razão.
Uma dica, então, para que não se desperdice a vida atrás de objetivos absurdos (como temos visto) é a seguinte:
Lembra-se daquela famosa frase de briga de criança: “Vá procurar alguém do seu tamanho”?
Pois é. Esteticamente também deveríamos assim proceder. Podemos até nos comparar com outros, é humano*. O problema é onde buscamos os modelos para comparação. Digo aos meus pacientes pré-adolescentes e adolescentes: se você nasceu para ser um Michael Jordan, pare de se espelhar no Sylvester Stallone.
Além do mais, onde estaria, por exemplo, a beleza da Renée Zellweger se ela estivesse preocupada em ser uma Nicole Kidman (tricô: embora ambas fiquem às vezes até meio parecidas)?

* Mas, melhor do que isso, idealmente, não se espelhe em ninguém, seja você mesmo! O curioso (veja como as coisas são perfeitas na natureza) é que em atributos mais, digamos assim, nobres como coragem, liderança, lealdade, honestidade, etc. podemos buscar comparações com quem quer que seja. É possível chegar lá aonde outros chegaram, embora também não sem algum esforço (mas certamente valerá muito mais a pena).
-Isso não conquista ninguém – respondem os adolescentes.
É, acho que pode ser verdade, mesmo. Mas deveria!!!

11 de maio de 2007

Arejada


Tratar de pacientes com bronquite ou asma tem sido um grande desafio, em boa parte pela dificuldade no entendimento das medicações utilizadas.
Dentre estas, uma merece consideração especial: os broncodilatadores. Não são poucas as ocasiões em que quase apanhamos dos pais ao propor seu uso nas crianças asmáticas!
Embora estejam progressivamente perdendo espaço para os corticosteróides (inalados, principalmente), os broncodilatadores (Berotec®, Aerolin®, Bricanyl®, Foradil®, etc.) ainda são muito úteis, especialmente nas “crises”. Ocorre que, além dos reais perigos (controláveis e muito pequenos), há ainda forte “marketing negativo” dificultando seu uso.
Por exemplo: “Ah, isso aí pode até matar!..”
Verdade. Além do fato de que quase toda medicação “pode matar” se usada de forma inadequada, há indícios de que o uso freqüente do broncodilatador acarrete mesmo uma maior mortalidade*. Mas por que?
Para que o broncodilatador funcione, ele deve se “ligar” aos chamados receptores nos brônquios. São como duas peças de um quebra-cabeça que se encaixam, o remédio e o receptor.
Ocorre que este receptor, quando excessivamente estimulado pelo remédio, “desaparece” dos brônquios, fazendo com que o paciente não mais responda, ou responda de maneira insatisfatória à medicação. E aí, em “crises”, o paciente terá menos opções terapêuticas efetivas (com maior risco de mortalidade).
Uma das maneiras de se compensar este menor funcionamento do remédio seria aumentar sua dose, com aumento proporcional dos riscos (que na dose convencional, repito, seriam muito pequenos). É, no entanto, o que muitos pacientes fazem, orientados por seus médicos ou não.
Portanto, também no caso dos broncodilatadores, vale a comparação com a poupança: só retire dinheiro quando muito necessário, e retire pouco, para que ele não acabe. Com sintomas menos intensos de bronquite também: quando necessário, use. Mas use doses pequenas, pelo menor tempo possível.

*Para se ter uma idéia, segundo um polêmico estudo que compilou o uso do remédio nos Estados Unidos no ano de 2004, 3,5 milhões de pacientes se trataram com o salmeterol, um dos broncodilatadores mais usados. As mortes totais por asma no ano foram em torno de 4000 a 5000. Bastante, mas a conclusão “torta” é de que estas mortes foram devido à medicação. Na maioria dos casos, não se morre pela medicação. Morre-se pela asma grave e suas conseqüências, pelo tratamento inadequado ou pelos efeitos colaterais (também pelo uso inadequado).

8 de maio de 2007

Evidências


Em algum lugar do passado... (Espera aí! Passado é lugar ou é tempo? Tanto faz!) havia um médico de aldeia no qual os habitantes depositavam enorme confiança.
Dava, este médico, expediente diário num modesto consultório de paredes feitas de seixo (seixo, para quem não sabe, não tem nada a ver com o antigo ídolo do rock’roll nacional, é uma espécie de pedra, um cascalho, enfim).
E a todos que a ele recorriam, Dr. Smaeloch (era esse seu estranho nome) dava o correto diagnóstico:
-Doutor, meu filho dorme de olhos abertos!
-Vermes!
Prescrevia ligeiro um excelente remédio à base de ervas e óleo de rícino, acrescido de aromatizantes naturais (que servia para o intestino funcionar cheiroso, provavelmente).
Outra mãe entrava assustada:
-Veja, doutor, minha filha tem olheiras!
-É vermes (Dr. Smaeloch tinha problemas com concordância)!
Nova receita do poderoso vermífugo. E lá ia mais uma mãe satisfeita. Até a entrada da próxima:
-Doutor, a Paula Karina range os dentes!
-Os de cima ou os de baixo? (fingindo rigor científico)
-Uns nos outros...
-Vermes!
E assim seguia a caravana:
-Tonteira.
-Vermes!
-Dor de cabeça.
-Vermes.
-Fala besteira.
-Vermes.
-Não consegue dormir.
Fazia, às vezes, apenas o “V” com os dedos, sem tirar os olhos do receituário. E tome vermífugo!
-Coceira no nariz.
-Vermes, claro!
-Unha encravada.
-Vermes? Vermes, lógico!
Vários anos se passaram. Dr. Smaeloch se aposentou. Ou morreu, não se sabe ao certo (talvez não tenha nem mesmo existido). Mas a sua mensagem continua viva nas cabeças de mães do mundo inteiro. Olheiras, brabeza, teimosia, nariz coçante, tonteira. Tudo deve ser culpa desses vermes malvados! Principalmente ao entrarmos no mês de maio. Sim, porque vermes têm “folhinha”! E neste belíssimo mês, os monstrinhos se alvorotam, dão as caras. As caras só não, dão rabinhos, também.
E de cada nova mãe que entra nos modernos consultórios atuais - o meu não, ainda é de seixo – ouvimos a peremptória negativa: “Não acredito nessas coisas!”. “Mas (baixinho), por via das dúvidas, podia aproveitar e receitar um remedinho pra vermes. A Glória Eduarda anda tão branquinha!..”

4 de maio de 2007

Pés No Chão


Esqueça os ventos (“encanados” ou não). Esqueça os pés no chão (a não ser, claro, em dias extremamente frios), esqueça os “gelados” (ah, que delícia são os gelados! E dizer que muitas crianças levam uma infância inteira longe deles...). Esqueça os pecaminosos banhos de mangueira. Ou seja, esqueça tudo isso que as vovós (grandes vovós!) ensinavam por pura falta de real ciência para explicar o motivo dos resfriados e gripes.
Vírus – dos mais variados tipos – andam sempre por aí “dando bobeira”. E, como é de se esperar, se concentram onde há mais gente. Então, primeiro ponto: não quer pegar gripe, fuja de gente!
Como isso é meio difícil, vamos falar dos motivos pelos quais uns pegam muita gripe e outros pegam pouca.
Faixa etária: claro está que quem até o momento foi pouco “apresentado” aos vírus está mais susceptível a pegá-los (e a ficar doente). Vide criancinhas em creches!
Resposta imunológica: há diferenças individuais importantes na produção de defesa contra vírus que frequentemente nos “invadem”. Parte disso é herdado. Outra parte se deve a condições como período de amamentação, tabagismo, etc. Outra, ainda, (e muito importante) diz respeito às condições de vida. Há vários estudos modernos mostrando uma clara relação entre pessoas “estressadas” – principalmente no longo prazo, refletido pelos níveis de cortisol, o “hormônio do stress” - e a maior incidência de doenças virais (dentre outras doenças).
Personalidade: pessoas com personalidade neurótica têm uma natural tendência tanto a se estressar mais quanto a reportar um maior número de sintomas e doenças (mais ou menos assim: se engasgam com uma pequena espinha e sentem ter engolido um peixe-espada!).
Somem-se a isso as diversas formas de tratamento (muitos quadros virais sendo “hiper-tratados” com excessos de antiinflamatórios, antibióticos, descongestionantes, etc.) e teremos as grandes diferenças:
Há pais que mal se lembram de terem visto seus filhos doentes durante toda a infância. Há outros que mal se lembram da infância dos seus filhos (pelo fato de só terem enxergado doenças).

1 de maio de 2007

"Peito"


Nos últimos anos, quando crianças recebem o diagnóstico de diabete melito tipo 1 (aquela que depende de injeções diárias de insulina e de início na infância ou em adultos jovens), os pais se apegam à esperança de que nos anos vindouros, haja um tratamento definitivo, curativo, para a doença. A palavra que vem à mente costuma ser: célula-tronco.
Provavelmente o estudo científico mais comentado no mundo inteiro no mês passado foi de um grupo de cientistas brasileiros (da USP de Ribeirão Preto), embora não exatamente apenas pelo vanguardismo científico nacional (como o governo brasileiro se apressou em encampar). Parte importante do motivo (não muito detalhado pela mídia) foi o fato de que nos Estados Unidos certamente comitês de ética “cairiam de pau” em cima dos pesquisadores - parte da própria mídia também o fez – porque há muito risco envolvido para os pacientes, há poucas certezas (mesmo em relação aos mecanismos de ação do tratamento proposto) e também porque há poucos experimentos de longo prazo em animais. A pressa em mostrar resultados, embora tão esperados, também é criticada.
E o que foi o tratamento?
Uma das modalidades de transplante de células-tronco, o transplante autólogo, de células presentes no sangue dos próprios pacientes. Estas, depois de retiradas, são “recolocadas” (após o paciente ter passado por um processo de destruição das células de defesa “defeituosas”, que no caso dos diabéticos tipo 1, passaram a destruir as células do pâncreas).
Embora não haja nenhuma certeza quanto aos resultados de longo prazo (a maior probabilidade, apostam os críticos e mostram os próprios resultados do período final do estudo, é de que não sejam tão bons assim), a pesquisa já representa um marco no tratamento da condição.
Fica para depois a discussão ética da transferência destes tipos de pesquisa para pacientes de “segunda classe” dos países de terceiro mundo.
* * *
(Primeiro de Maio me deu vontade de trabalhar de novo. Então, novas bobagens no Um Macaco Fonia. Confiram, tive coragem...)