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30 de janeiro de 2007

Pense Duas Vezes




Frequentemente, quando damos o diagnóstico de enxaqueca em crianças, os pais nos olham com alguma desconfiança. Aparentemente, inclusive em adultos - mas principalmente em crianças - é mais fácil aceitar um diagnóstico como o da sinusite, até porque o diagnóstico da enxaqueca é eminentemente clínico (independe de exames de laboratório ou imagem). Além disso, a enxaqueca cria certo estigma de uma condição mais “misteriosa”, mais crônica, mais “séria”.
O primeiro quadro acima mostra, no entanto, que mais da metade dos casos de enxaqueca (em adultos) são erroneamente diagnosticados como sinusites (talvez em parte por causa de dores faciais relacionadas e porque há consenso hoje em dia de que o diagnóstico de sinusite não precisa necessariamente de um exame de imagem como o raio X ou a tomografia).
Dores de cabeça tensionais também costumam ser mal diagnosticadas em muitos casos de enxaqueca (embora a tensão, ou o stress, seja um dos fatores desencadeantes da própria crise enxaquecosa).
Outro dado interessante (segundo quadro) é o de que nas mulheres há um aumento na incidência de enxaqueca até a meia idade, quando então começa a declinar. Nos homens, esta incidência mantém-se constante (e mais baixa) em todas as faixas etárias.
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Mariposa

Se, no momento em que deixamos este mundo, a personificação da Morte vem realmente nos buscar, não há de ser problema que ela venha na tradicional figura calma, encapuzada em manto negro empunhando a gadanha, como revivida no recente livro “Intermitências da Morte” de José Saramago ou no – mais distante - filme “Vida e Morte de Boris Gruschenko”, de Woody Allen, igualmente divertido.
Meu problema será em que ela venha na forma dessa enorme mariposa que me assaltou de trás da geladeira no início da manhã. Nervosa, agitada, batendo suas asas negras para toda direção.
Quase me faz descobrir que, assustado, taquicárdico e ainda “encarnado”, consigo atravessar paredes.

26 de janeiro de 2007

Zumbis Hipocalóricos


Há muito que se sabe que encher a pança não é bom negócio para quem quer viver muito e de forma saudável.
O que não significa dizer que se deva ingerir menos calorias do que o mínimo necessário para as funções básicas do organismo.
É justamente isto que propõem os seguidores da dieta da restrição calórica citada na reportagem da Veja de 24 de janeiro último (“Comer Pouco, Viver Muito”).
Baseados em estudos com animais que mostraram uma longevidade convincentemente maior e uma “riscada do mapa” de doenças relacionadas ao metabolismo como hipertensão arterial e diabete, estes malucos extrapolaram a conduta alimentar de baixas calorias (tão baixas quanto 700 calorias/dia) para seu cotidiano.
Embora estas pessoas não se encaixem propriamente no perfil dos anoréxicos, o que os motiva a abrirem mão dos prazeres da mesa também envolve certo sentimento patológico de “superioridade” sobre outros humanos – os que adoecerão e morrerão.
São, portanto, igualmente candidatos a tratamento psiquiátrico (ou psicológico, no mínimo).
A única lição positiva que deveríamos derivar destas experiências com restrição alimentar em animais é o da moderação à mesa. E ponto.
PS.: é preconceito, vá lá, mas a própria foto do casal restringente que ilustra a reportagem não é nada animadora.
(obs.: o site do Drauzio Varella traz um interessante resumo sobre os conhecimentos atuais relacionando dieta e envelhecimento)

23 de janeiro de 2007

Faça Um Dermatologista Feliz


Orientação veiculada num canal educativo:
“Após espremer o limão, evite expor-se ao sol, pois poderão surgir manchas escuras na pele. Caso isto aconteça, procure imediatamente um dermatologista”...
Eu acrescentaria:
...para que ele possa imediatamente cobrar uma consulta para informá-lo de que é uma condição benigna e que no prazo de no máximo alguns meses a mancha (que tem o nome de fitofotodermatose) desaparecerá.
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Mundo Macho

Interessante como a perda de um quase nada, uma coisinha pouca como a liberdade serve para acentuar a diferença entre os gêneros.
A reportagem do Fantástico do dia 21/01/07 sobre os presidiários nos mostrou que, enquanto esposas se desdobram para visitar seus maridos na prisão (algumas levando cardápio para o mês inteiro nas costas, como pobres camelos), maridos na mesma situação costumam esquecê-las num piscar de olhos.
Mais uma demonstração de que se o mundo dependesse apenas dos homens já teríamos pedido a conta há muito tempo.
(Outra lição valiosa na mesma reportagem: a mulher que descobriu o quanto amor um homem pode dar quando ele perde o precioso bem da liberdade: “Quando visitamos nossos homens na prisão, somos muito mais valorizadas”, ensina).

19 de janeiro de 2007

Mágica


A real ciência trabalha arduamente e a passos lentos, embora em ritmo progressivamente acelerado. A mídia (entidade cada vez mais abrangente) é quem se apressa na divulgação – e muitas vezes na distorção – dos fatos.
Como na questão das células-tronco.
Embora seja inegável seu potencial “curativo” para doenças para as quais pouco ou nenhum recurso existe atualmente, há ainda milhares de questionamentos sobre riscos associados ao seu uso, como o aparecimento de doenças chamadas auto-imunes (em que a imunidade do indivíduo volta-se contra ele próprio, como no caso de várias das doenças reumáticas e neurológicas), doenças endocrinológicas (pela desregulação do delicado equilíbrio hormonal com que somos construídos), a formação de tumores, além da provável necessidade do uso de medicações imunossupressoras e antibióticas por longo prazo ou pela vida toda.
A verdade é quase desanimadora para aqueles que – por desconhecimento – pensam que vem logo por aí soluções “mágicas” para problemas de saúde.
Não devemos, entretanto, desanimar, mas ainda a prevenção e o conhecimento são as grandes armas na luta contra a maioria das doenças. Pena que sejam ainda aparentemente tão difíceis de serem postas em prática.

16 de janeiro de 2007

Ainda é Cedo?


Uma pergunta que pediatras e endocrinologistas do mundo inteiro têm se feito é se o amadurecimento físico mais precoce das crianças está relacionado aos níveis de obesidade.
Parece que a resposta é: não. Ou não exatamente.
Não parece ser propriamente o peso, mas a atividade da insulina, segundo aponta uma revisão do Clinical Endocrinology de 2006. Níveis de insulina elevados (seja por fatores genéticos e/ou pela qualidade e quantidade da alimentação atual) seriam a chave para “disparar” alterações hormonais no organismo inteiro: amadurecimento mais precoce, níveis de pressão arterial mais elevados, alterações nos órgãos reprodutivos (notadamente nos ovários, dando origem à chamada síndrome dos ovários policísticos), etc.
-Peraí, mas a insulina é boa ou é ruim? Não é ela que é usada para tratar a diabete?
Numa comparação esdrúxula, a insulina se comporta como o funcionalismo: poucos funcionários eficientes realizam a mesma tarefa que muitos funcionários pouco eficientes. Num organismo em que se dosa a insulina e esta está baixa, é sinal de que ela está “dando conta do recado” (exceto nos diabéticos tipo 1, em que há falência total na produção de insulina). Nos casos em que está elevada, é indício de que o pâncreas está “dando tudo de si” para manter o equilíbrio hormonal do organismo (um mau negócio!).
-O que fazer para prevenir esta situação?
A receita que estamos carecas de ouvir: amamentação por tempo prolongado (ajuda - e muito - a prevenir o esgotamento do pâncreas), exercícios físicos regulares e alimentação mais “equilibrada”.

12 de janeiro de 2007

Mais é Menos


Recém-nascidos prematuros, ao necessitarem de leite “de lata” (até porque muitos deles ficam muito tempo separados de suas mães em UTIs neonatais) têm a recomendação de usarem leites próprios para prematuros (normalmente mais caros e enriquecidos com mais calorias, mais cálcio, mais fósforo, mais proteínas, mais etc....).
O resultado?
Segundo estudo recente de Koo e colaboradores no American Journal of Clinical Nutrition, menor ganho de peso, menor ganho de altura, menor circunferência craniana, menor massa óssea...
Ou seja, em relação ao outro leite, o recomendado para crianças de termo, perde em tudo. Talvez por isso leve o prefixo “Pré”, significando: ainda não chegou lá.
Essa notícia já possuía um antecedente bem conhecido: quando se compara leite de vaca (mais nisso tudo aí de cima: proteínas, cálcio, etc.) com leite materno também, perde de 10 a 0.
A partir da disseminação das informações deste estudo, espere e verá: leitinho para prematuros com ótimos descontos!
(só esclarecendo: o "prematuro" da figura acima é uma escultura, na "vida real" o coitado costuma ser bem mais feinho.)
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Chaves de Cadeia III

Chaves assumiu anteontem seu terceiro mandato (mandato é um cargo onde só ele manda), prometendo levar a Venezuela e a América Latina à... loucura.
E o povo na praça responde em uníssono: “Ugo!”

9 de janeiro de 2007

Sócios da Light


Não deveria ter sido surpresa a notícia veiculada na mídia recentemente de que os aparelhos eletr0-eletrônicos, quando no modo stand-by (espera) continuam consumindo energia (cerca de 1 a 10% da energia consumida quando estão ligados).
Assim funciona a ansiedade, tão comum atualmente. A ansiedade pode ser comparada a um estado de stand-by orgânico: nosso organismo todo numa preparação constante para entrar em ação, “ligado na tomada”. E aí é que está o busílis (problema, vai): gastando uma energiazinha constantemente detonamos a longo prazo com nossa “conta de luz”, nossa homeostase (o funcionamento equilibrado do corpo e da mente).
Várias técnicas têm sido propostas para que consigamos relaxar. São difíceis de serem postas em prática, e muitas delas não passam de grandes bobagens. Dentre as mais efetivas estão a meditação (Mas espere: não vá sair recitando o mantra pela rua de uma hora para outra. Meditação envolve opção, tempo, vontade e prática).
Outra técnica é o que o psicólogo Martin Seligman (o criador da Psicologia Positiva, de quem sou fã de carteirinha) chama de saborear. Estamos sempre com pressa, atrás de alguma coisa. Quando aprendemos a valorizar o momento, a dar atenção a cada “lambida no sorvete da vida”* (e por incrível que pareça, quando o sorvete tem estado amargo é onde mais nos fortalecemos psicologicamente), a tomada desliga – ou pelo menos gasta menos energia.
* Essa metáfora horrorosa é minha, não dele.
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Travalíngua

Caso tenha a pretensão de se tornar uma Lillian Witte Fibe (reveja o vídeo, não há como ficar sério), pode tentar. Quanto a mim, mesmo sóbrio, já não consigo repetir a seguinte frase:

“Viraria farelo, se esfarelaria”

5 de janeiro de 2007

Já Pegando Pesado


Quando estava pensando na minha primeira postagem “de verdade” para 2007, um artigo do New York Times deste novo ano “caiu no meu colo”.
Antes de mais nada, quero dizer que já disse algo sobre isto pelo menos aqui, aqui e aqui (e ainda pretendo dizer mais, ainda mais agora que me sinto respaldado pelo “jornaleco” americano).
Trata-se do que está sendo chamado de epidemia de diagnóstico, e não vai haver outro jeito para mim senão dar uma roubada literal do texto do hebdomadário (jornal, gente!) :
“Esta epidemia (de diagnósticos) é uma ameaça à sua saúde e tem duas fontes distintas: uma é a medicalização do nosso dia-a-dia. A grande maioria de nós tem sensações desagradáveis como parte da vida normal. Cada vez mais, estas sensações estão sendo transformadas em sintomas de doença. Experiências cotidianas como insônia, tristeza, pernas que se mexem à noite e menor ímpeto sexual agora se transformaram em diagnósticos: transtorno do sono, depressão, síndrome das pernas irrequietas e disfunção sexual.”
“Diagnósticos anteriormente reservados para casos severos passaram agora para grande parte da população sem qualquer sintoma, que passou a ser considerada predisposta ou de risco. (...) Limites para o que pode ser considerado como doença – como no caso da hipertensão, diabete, osteoporose e obesidade - têm se estreitado cada vez mais (...) Se mais da metade da população agora está doente o que significa ser normal ? (...) O que exatamente estamos fazendo quando cerca de 40% das crianças presentes em um acampamento de verão estão em uso crônico de medicação? (...) Simplesmente rotular as pessoas como doentes as deixam mais ansiosas e vulneráveis – uma preocupação para as crianças em particular”
“O real problema com a epidemia de doenças é a epidemia de tratamentos associada. Nem todos os tratamentos trazem benefícios, mas quase todos causam algum dano. Vários destes danos podem levar anos para aparecer. Para os muitos doentes estes danos empalidecem frente aos benefícios. Porém, para os de risco ou predispostos, os tratamentos podem fazer mal, apenas.”
“A epidemia de diagnósticos tem muitas causas. Mais diagnósticos significa mais dinheiro para as indústrias de medicamentos, laboratórios, médicos, hospitais e advogados. (...) Preocupações legais também impulsionam a epidemia. Enquanto que a falha em se fazer diagnósticos pode levar a processos, o exagero de diagnósticos costuma passar ileso.”
“A questão na qual todos devemos pensar é quando devemos ou não nos tornar pacientes. E os médicos devem se lembrar do valor que existe em assegurar às pessoas de que elas não estão doentes.”

No mais, faço como aquele meu sapato apertado: me calo.

2 de janeiro de 2007

Gabolice (Postagem de Aniversário)


Quando, há exato um ano, com a única intenção de expandir minhas orientações dadas em consultório, decidi criar um blog (mal sabia o que era isso na época, provavelmente imaginava se tratar de alguma onomatopéia batráquia), meus vastos neurônios inibidores argumentaram:
-Quê? Vai criar uma página na Internet:
• escrita por uma só pessoa
• desconhecida do “grande público” (aliás do público de qualquer tamanho)
• não-institucional
• feita por um “ciberignorante”
• de conteúdo não exatamente jovem
• baseado em texto (blog, não flog)
• com pretensões de alcance local
• não-pornográfico
• em língua portuguesa
-Não vai dar certo!
Esse numerozinho no pé da página mostra que eles (meus neurônios) estavam poliedricamente (pois neurônios) enganados.
Fico feliz de saber que você (é, você mesmo, faça como aquela revista de fofoca, não finja que não é contigo) é parte dessa realidade (mesmo que virtual).
Porque este blog foi criado:






Para aqueles que se regozijam na presença das crianças






Para aqueles que desejam se manter antenados a todo custo





Para os que se emocionam com cada “grande passo para a humanidade”






Para os que querem novas experiências